23/01/2017

A Tradução e Publicação do Livro de Mórmon

STEPHEN RICKS
http://maxwellinstitute.byu.edu/publications/translations/?id=29

Stephen D. Ricks é professor de hebraico na Brigham Young University (BYU) e autor e co-autor de vários livros e artigos defendendo A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja SUD) e seus ensinamentos.

Estou feliz por poder passar algum tempo com vocês hoje falando a respeito da tradução do Livro de Mórmon. Estou esperançoso de que no final dessa preleção hoje possamos conhecer apenas um pouco mais a respeito do que Joseph Smith pessoalmente pensava e disse sobre a tradução do Livro de Mórmon.

O que diz Joseph Smith?
O que outros companheiros, colegas, e co-trabalhadores, que o conheciam naquele período de tempo dizem a respeito do processo de tradução?
E além disso, fazer perguntas especificamente sobre os meios e métodos que foram usados no processo e tradução. Por meios quero dizer, instrumentos, os objetos que foram usados. E descobrir o que podemos aprender disso.
 
Em acréscimo a isso, finalmente, que método foi usado no processo de tradução? Como foi que Joseph Smith na verdade combinou esses instrumentos, os objetos que lhe foram dados, de modo a estar apto a traduzir? Essas quatro questões espero estarmos aptos a discutir.

Greg Olsen: The golden plates

Estamos todos familiarizados, acredito, com a agora famosa carta Wentworth, a carta que contém as Treze Regras de Fé, na qual Joseph descreve a ascensão e progresso da Igreja. Nessa carta ele também descreve ligeiramente a respeito da tradução por meio de Urim e Tumim, através do poder de Deus. Em outras ocasiões ele usou linguagem semelhante sobre o processo de tradução.

Em uma carta que ele escreveu a uma pessoa muito vivida, à qual ele se referiu como "Joshua, o ministro Judeu", ele diz que a tradução ocorreu pelo dom e poder de Deus. E em outra parte, onde fala sobre o uso de Urim e Tumim, ou os 'óculos', ou os intérpretes nefitas, como são chamados no Livro de Mórmon ( e aqui devo acrescentar em parênteses que o termo Urim e Tumim, que normalmente usamos para descrever os objetos ou os instrumentos que foram usados para a tradução na verdade nunca foram encontrados no Livro de Mórmon), ele sempre - observem - usa apenas a frase eles foram usados pelo dom e poder de Deus.

Devemos nos perguntar, porque Joseph Smith foi tão hesitante em responder à questão em maiores detalhes? E sabemos que ele foi, porque em 1831, na Conferência de Outubro, em Orange, Ohio, seu irmão Hyrum, a quem ele tão ternamente amava, e por quem ele fez tanto, e que também muito lhe fez, perguntou-lhe, diante da conferência, se poderia por favor levantar-se e informar aos membros da conferência em maiores detalhes do que ele já o fizera, exatamente como o Livro de Mórmon foi traduzido. Em resposta ao pedido, Joseph disse que não nada mais tinha a acrescentar além do que já havia sido dito sobre a vinda do Livro de Mórmon à luz, e que não era bom que maiores detalhes fossem acrescentados.

A reticência, suspeito, resulta de alguma experiência ruim que Joseph deve ter tido quando havia dado a conhecer coisas muito sagradas a algumas pessoas. Recordamos, naturalmente, que logo no início quando ele deu a conhecer ao povo suas experiência da primeira visão; o resultado foi perseguição maior do que ele havia concebido ou imaginado.

Havia outro problema. Nos primórdios da Igreja, muitos dos primeiros membros da Igreja começaram a acreditar que foi apenas pelo uso e através das pedras videntes - Urim e Tumim - que era possível receber revelação. Assim, sempre que eles sentiam que uma revelação legítima devia ser dada, as pedras videntes tinham de estar lá. Joseph, como veremos, logo abandonou as pedras videntes porque ele sentiu que não mais necessitava delas. Essas pessoas continuaram acreditando que as pedras videntes eram essenciais. Assim, eu acredito por causa da atitude reinante entre certos membros da Igreja, tanto quanto a atitude que ele deve ter suspeitado existir entre aqueles que não pertenciam à Igreja, então ele decidiu nada mais acrescentar ao que já havia dito naquela declaração, de que "foi pelo dom e poder de Deus" que ele traduziu o Livro de Mórmon.

Entretanto, felizmente, algumas outras testemunhas disseram mais a esse respeito. Falaram tanto sobre os instrumentos e objetos que foram usados de modo a traduzir o Livro de Mórmon, e, em acréscimo a isso, eles também falam com certa extensão sobre o método que foi usado para esse fim. Eu gostaria de analisar ambos - instrumentos e método.

Durante o processo de tradução as testemunhas notam que dois instrumentos diferentes são usados. Um deles, as pedras videntes. Estamos todos acostumados, acredito, com a palavra, mas quereremos gravá-la em nossa mente, porque ela ocorre em contexto com outras palavras igualmente. E, em acréscimo àquilo, uma outra palavra, os intérpretes, às vezes chamados de intérpretes nefitas, ou óculos. Esses dois objetos parecem ter sido usados desde o início do processo de tradução do Livro de Mórmon.

A pedra vidente, em primeiro lugar, podemos falar a respeito. Parece haver sido originalmente encontrada por Joseph, seu irmão Alvin, quando eles estavam trabalhando na propriedade de Mason Chase em 1822, e que é descrita por uma das testemunhas, serem do tamanho aproximado do ovo de uma galinha, na forma de um alto dorso de sapato. Era composta de camadas de cores diferentes passando através dela diagonalmente. Era muito dura e lisa, talvez por serem trazidas nos bolsos. Muitas das demais descrições que temos a respeito delas dizem quase a mesma coisa.

É interessante notar que as pedras videntes foram passadas por Joseph, após traduzir o Livro de Mórmon, a Oliver.

Oliver conservou-as em sua posse até morrer. A seguir passaram para sua esposa, Elizabeth Ann Whitmer Cowdery, que as deu para Phineas Young, irmão de Brigham Young, que viera a Missouri onde Elizabeth se encontrava naquele tempo. Phineas levou-as a Utah com ele e entregou-as a seu irmão, Brigham, que as conservou guardando-as para a Primeira Presidência; e, com exceção de breve hiato de tempo quando ela foi adquirida por alguém mais, ela tem permanecido na posse da Primeira Presidência desde aquele tempo e ainda faz parte das posses da Primeira Presidência.

Existem vários relatos mais, além do relato que acabamos de mencionar, relativos aos óculos ou intérpretes nefitas. Talvez a melhor e mais longa descrição que temos dos intérpretes nefitas obtemos do irmão mais jovem de Joseph, William. O irmão de Joseph, como devem recordar, era um membro do primeiro Quórum dos Doze. Mais tarde ele se tornou insatisfeito com a Igreja e abandonou-a. Ele não mais congregou com os santos em Utah, mas sempre manteve fiel a seu testemunho do Livro de Mórmon. Ele foi o membro do Quórum dos Doze original que viveu mais longamente.

Ele morreu em 1893, e em 1891, dois antes de sua morte, dois cavalheiros, Sr. Peterson e Sr. Pender vieram entrevistá-lo a respeito de suas recordações do processo de tradução do Livro de Mórmon. No decurso disso, ficaram sabendo, juntamente com outras coisas, sobre o Urim e Tumim, e o peitoral. Perguntaram-lhe qual era o significado da expressão: "dois aros de um arco, que prendia [o Urim e Tumim]." Ele disse que o arco de prata dobrado estava torcido com o formato de um 8, assim temos uma idéia de que "dois aros de um arco" parece um pouco com um par de óculos, mas um par de óculos que tem a forma semelhante a um 8. E as duas pedras eram colocadas, literalmente, entre os dois aros - isto é, dentro dos aros, de modo a permitir os meios através dos quais o indivíduo, que era o vidente, podia olhar e ver.

No final, ele continua a dizer, era presa por uma haste que era ligada a outra extremidade do ombro direito do peitoral. Ao apertar a cabeça um pouco para frente a haste prendia o Urim e Tumim diante dos olhos, muito parecido com um óculos. Um bolso foi preparado no peitoral, no lado esquerdo, imediatamente sobre o coração. Quando não estava sendo usado, o Urim e Tumim era colocado nesse bolso, a haste tendo justamente o comprimento necessário para permitir que fosse ali depositado. Esse instrumento podia, entretanto, ser retirado do peitoral, e Joseph frequentemente usava-o desligado quando fora de casa, mas sempre o usava em conexão com o peitoral ao receber comunicações oficiais ou quando traduzindo, permitindo-lhe ter ambas as mãos livres para manusear as placas.

Conseguimos ver a imagem que está sendo criada aqui por William? O peitoral cobria a parte superior do corpo.

Dentro do peitoral tem um buraco onde os dois aros do arco, os intérpretes, podiam ser fixados para manter as mãos livres no momento em que traduzia ou recebia revelações. Ele continua, ainda, a dizer mais um par de coisas interessantes com relação a isso. Aparentemente, ele diz: aquilo havia sido preparado para homens muito maiores em tamanho do que Joseph ou ele próprio, e eram muito largos tanto para os olhos de Joseph quanto de William. E, como resultado, causava um estado de tensão nos olhos, porque as lentes - pedras - ou intérpretes, ficavam um tanto distantes uma da outra, mais do que indivíduos do tamanho de William ou Joseph estariam acostumados, em circunstância normal; ele causava uma certa quantidade de tensão ocular, como resultado do que William dissera, eles ou ele também usara as pedras videntes.

Agora devemos nos perguntar, "Bem, o que sabemos a respeito de quando as pedras foram usadas em oposição a quando os intérpretes nefitas foram usados"? Os relatos variam um pouco aqui, mas parece razoavelmente claro que as pedras foram usadas em todos os estágios do processo de tradução. Há pelo menos alguma probabilidade, em acréscimo a isso, que os intérpretes nefitas foram usados durante todas as fases do processo de tradução igualmente, embora perdure alguma dúvida a respeito disso.

Devo acrescentar, aqui, uma história muito interessante que é contada a respeito das pedras videntes por Martin Harris, o qual, naturalmente, esteve envolvido no processo de tradução logo no início. Ele conheceu Joseph quando ele usava as pedras bem como os intérpretes nefitas. Ele disse, então, que certa vez quando Joseph estava usando as pedras com o propósito de traduzir, ele ficou cansado; qualquer pessoa pode imaginar que permanecer sentado duas ou três horas trabalhando daquela maneira, é natural que quisesse descansar, e eles o fizeram. Foram para a margem do rio, ele disse, e apanharam pedras e começaram a lançá-las sobre as águas. Enquanto Joseph atirava as pedras, Martin, sem Joseph saber, pegou uma pedra que era grosseiramente semelhante em tamanho e forma e cor às pedras videntes que ele estava usando, e colocou-as em seu bolso. A seguir ele trocou as pedras videntes pelas pedras que ele havia encontrado no rio, de modo que quando Joseph iniciou a tradução novamente, ao contrário de ter as verdadeiras pedras ele tinha as falsas apanhadas por Martin.

Ao descrever essa experiência, Martin diz que Joseph olhou intencionalmente para o chapéu que era usado para cobrir, para evitar a luz, e ficou em absoluto silêncio por vários momentos - algo que normalmente não acontecia no processo de tradução, quando Joseph podia simplesmente continuar do ponto em que interrompera, mais ou menos traduzindo continuamente. Então ele disse a Martin, "Martin, o que aconteceu? Está tão escuro quanto o Egito". E quando olhou para a face de Martin, Martin disse que seu semblante decaiu e então Joseph perguntou-lhe: "O que aconteceu"? Martin explicou, e então Joseph perguntou- lhe: "Por que você trocou as pedras por outras?" E Martin disse: "Para provar que aqueles que clamam que você está simplesmente criando as palavras estão errados a esse respeito." Ele disse que fez isso para calar a boca dos loucos que faziam tais clamores. Emma, que estava lá naturalmente durante todo o processo de tradução, afirma que no início da fase de tradução Joseph usou primeiramente os intérpretes nefitas. Mais tarde ele usou os intérpretes nefitas apenas para algo menos extenso, e usou fundamentalmente as pedras videntes. Afirmação semelhante encontramos de William McLellin.

Por outro lado, e eu creio que isso é muito importante, nós temos a declaração de Oliver Cowdery - quem nós sabemos nem mesmo esteve envolvido no processo de tradução do Livro de Mórmon até depois de perdidas as 116 páginas manuscritas - quando Joseph teve as placas e tudo o mais retirado dele, e depois devolvido a ele. Oliver agora foi chamado a testemunhar em favor de Joseph em um julgamento ocorrido em 1830, denominado "sob acusação de um crime muito sério", o que basicamente significa - alguém que não gostava de Joseph e assim decidiu fazer acusações contra ele. Sob juramento, testemunhando sobre a tradução, (Oliver) disse que ele (Joseph) "usava duas pedras transparentes parecidas com óculos, ajustadas em aros prateados". E ele continua dizendo: "Olhando através dessas pedras, Joseph era capaz de ler, em inglês, os caracteres egípcios reformados que estavam gravados nas placas." Desde que a única experiência de Oliver com Joseph, que acabei de mencionar, aconteceu depois da perda e recuperação das placas, e as outras coisas que se seguiram, seu testemunho nesse julgamento certamente sugere que Joseph estava continuando a usar os intérpretes nefitas, até mais tarde nessa parte do processo de tradução.

Semelhantemente, encontramos em um número bem antigo do Latter-day Saint Messenger (O mensageiro Santo dos Últimos Dias) e Advocate (Advogado) o que Oliver escreveu: "Dia após dia eu continuava a escrever ininterruptamente a partir do que ele ditava à medida que traduzia com o Urim e Tumim, ou como os nefitas diriam, intérpretes, a história, um registro denominado Livro de Mórmon." Aqui novamente notamos que o termo Urim e Tumim não era encontrado no Livro de Mórmon; é algo que virá mais tarde, em um relato posterior a 1830. Talvez 1831, ou algo assim, é que temos a primeira menção deles, aparentemente não de Joseph, mas de ambos W.W.Phelps ou de Oliver Cowdery. Eles o denominaram Urim e Tumim por acreditarem que essa era a melhor maneira de ajudar na descrição (dos intérpretes) para o povo, usando portanto, uma terminologia bíblica, que estava à disposição de Joseph a fim de traduzir.

Encontramos declaração semelhante feita por Oliver através de Rueben Miller, em 1848, e isso bem próximo do fim de sua vida: "Eu escrevi com minha própria pena o Livro de Mórmon inteiro, exceto algumas páginas, tal como saíram dos lábios do profeta, à medida que ele traduzia-o pelo dom e poder de Deus, através do Urim e Tumim, ou conforme chamado no livro, intérpretes sagrados". Parece, penso então, muito apropriadamente que durante todo o período da tradução, mesmo durante os primórdios da tradução até a época em que as 116 páginas foram perdidas, ambos os intérpretes nefitas, as duas pedras presas a um aro, em acréscimo às pedras videntes, que haviam sido encontradas por ele alguns anos antes. E que mais tarde, ambos eram usados. Mas, em certo sentido, a coisa realmente importante é que durante todo o processo de tradução, Joseph usou meios sobrenaturais para capacitá-lo a traduzir o Livro de Mórmon corretamente.

Ora, há outra questão que talvez nos perguntemos, e acho- a muito legítima. Por que Joseph tinha de usar qualquer tipo de meio, seja qual for, os intérpretes nefitas ou as pedras videntes, ou qualquer outra coisa? Pergunta que alguns dos primeiros santos fizeram igualmente. Orson Pratt, por exemplo, fez a pergunta e ele assim relatou, quando fez a pergunta o profeta disse-lhe que o Senhor lhe tinha dado o Urim e Tumim quando era inexperiente quanto ao princípio de inspiração. Mas agora, ele, isto é, Joseph, tinha avançado bastante na compreensão da influência do Espírito que não mais necessitava da assistência do instrumento. De fato, vocês recordam que mencionei que depois de haver completada a tradução do Livro de Mórmon, ele deu as pedras videntes para Oliver, dizendo, "Não mais necessito disso."

A seguir temos outro comentário, usado mais tarde por Zebedee Coltrin que também o conhecera nesses primeiros anos. Em 1880 Zebedee Coltrin diz que: "Joseph disse, com relação a Urim e Tumim ou intérpretes nefitas e as pedras videntes, que não mais necessitava daquilo e que os tinha entregue ao anjo Moroni." Isso é interessante porque aqui estamos falando, naturalmente, sobre os intérpretes e não sobre as pedras videntes. Os intérpretes voltaram para Moroni, as pedras para Oliver. Mas ele possuía o sacerdócio de Melquisedeque e esse sacerdócio permitiu-lhe ter as chaves para todo conhecimento e inteligência, como resultado de que tais instrumentos não eram mais necessários para ele usar, bem como os intérpretes e as pedras videntes.

Agora deixem-me frisar mais uma coisa. Aqui nós observamos os termos pedra vidente ou intérpretes ou óculos. Na literatura, em geral, parece que intérpretes e Urim e Tumim, são usados mais ou menos indistintamente. Mas, também pareceu haver alguns momentos em que Joseph, e outros, usaram Urim e Tumim para se referirem às pedras videntes igualmente. Assim sendo, creio que nós precisamos compreender que Urim e Tumim, embora usualmente associados com óculos ou intérpretes, deve também ser usado para se referir às pedras videntes. Mais importante, todavia, é que são usados com referência a qualquer meios sobrenaturais que o Senhor proporcionou a Joseph durante aquele período, de modo a capacitá-lo a traduzir o Livro de Mórmon.

A próxima questão que podemos desejar elucidar a seguir é, que tal esse método de traduzir o Livro de Mórmon?

Quanto aos meios, temos alguma discussão a respeito: pedras videntes, intérpretes, ou óculos. E o método? Joseph nos informou como foi que ele traduziu o Livro de Mórmon? Infelizmente, aqui também ele não fornece maiores informações a respeito de como o Livro de Mórmon foi traduzido do que fez quando veio à tona o exemplo discutido a respeito dos meios que foram utilizados. Ele diz meramente que eles trabalharam pelo dom e poder de Deus. Isto é particularmente uma pena, uma vez que somente Joseph, nesse particular, estava em posição de descrever como os instrumentos na realidade agiam, de modo que outros pudessem descrever para nós, com algum detalhe e com correção indubitável, como Joseph ou os instrumentos pareciam. Entretanto, pelo menos dois auxiliares de Joseph, pessoas que foram testemunhas do processo de tradução, fizeram declarações relativas à como Joseph na verdade traduziu o livro de Mórmon.

Um deles é David Whitmer. No final de sua vida, em resposta a algumas afirmações que estavam sendo feitas a respeito dele e a respeito do início da ascensão da Igreja, David Whitmer escreveu uma declaração aos "Crentes em Cristo". Ele escreve certo número de assuntos diferentes que detratam os primórdios da Igreja, mas ele também fala do processo de tradução. E isto é o que ele diz a esse respeito:

"Eu lhes darei uma descrição do modo em que o Livro de Mórmon foi traduzido.”

"Joseph colocava as pedras dentro de um chapéu, puxando- o bem junto à face para excluir a luz". Ora, essa é a maneira que alguém certamente usará se estiver olhando através de um microscópio, e às vezes até um binóculo. É necessário excluir a luz de modo a estar apto a ver.

Assim ele diz: "No escuro a luz (sobrenatural?) brilharia. Um pedaço de uma coisa parecida com pergaminho apareceria e nele o escrito. Um caractere por vez apareceria e sob ele a interpretação em inglês. O irmão Joseph então leria o inglês para Oliver Cowdery, que era seu principal escrevente, e quando estava escrito e repetido para Joseph, para verificar sua exatidão, então desaparecia, e um outro aparecia com a interpretação. Assim, o livro de Mórmon foi traduzido pelo dom e poder de Deus e não por qualquer poder do homem." Essa é uma declaração muito interessante. Desejamos voltar a ela porque há muito nela que merece ser escrutinado.

Todos vocês sabem que Martins Harris permaneceu muitos anos fora da Igreja, jamais modificando seu testemunho da Igreja, jamais em tempo algum também sobre seu testemunho do Livro de Mórmon. Mais para o fim de sua vida ele foi visitado por Edward Stevenson, que era membro do Primeiro Quorum dos Setenta, que o reconverteu ao evangelho e o trouxe para Utah, onde permaneceu pelo resto de seus dias. Edward Stevenson teve numerosas entrevistas com Martin Harris sobre aqueles grandes acontecimentos sucedidos nos primeiros dias da restauração e as registrou. Ele perguntou-lhe muita coisa sobre a vinda à luz do Livro de Mórmon e recebeu uma declaração de Martin sobre como o Livro de Mórmon foi traduzido por Joseph que acho extremamente interessante e digna de consideração por um momento.

Isto é o que Edward Stevenson diz com relação à descrição de Martin: "Com ajuda das pedras videntes, sentenças apareciam e eram lidas pelo profeta e escritas por Martin. E quando terminado ele dizia "escrito", e se estivesse correto, a sentença desaparecia e uma outra aparecia em seu lugar. Mas, se não estivesse escrita corretamente ela permanecia até ser corrigida, de modo que a tradução era idêntica ao que estava gravado nas placas, precisamente na língua então usada."

Bem, essa é uma declaração interessante. Consideremos esta última parte da declaração em primeiro lugar. 

Ele observa aqui que Joseph leria o que estava escrito na pedra vidente, ou nos intérpretes nefitas. Se estivesse corretamente escrita pelo escrevente, cujo manuscrito ele não podia ver diretamente, mas apenas, através de inspiração, então continuavam. Mas, se não estivesse corretamente escrita ele a corrigia. Podemos ver no manuscrito original do Livro de Mórmon, cerca de um quarto dele ainda existe, (que esteve em anos recentes estudados inteiramente por Royal Skousen), em certos exemplos em que uma palavra, especialmente um nome, está escrito de uma forma e a seguir riscado e escrito de maneira um pouco diferente.

Posso imaginar bem nesses exemplos, Joseph lendo a palavra tal como ele a consideraria apropriadamente pronunciada. A pessoa que estava atuando como escrevente grafava a palavra tal como imaginava devia ser escrita. Mas, em poucos exemplos, ele a escreveu de forma não muito correta, e como resultado, Joseph, que podia ver o que estava sendo escrito, corrigiria a ortografia e então depois de corrigido continuaria. Em alguns exemplos é especialmente interessante, porque as correções fazem sentido apenas à luz desses nomes vindos do antigo Oriente Próximo, e que não faria grande sentido particularmente como um nome que tivesse ocorrido somente através da experiência dessas pessoas que falavam o inglês.

Em um exemplo particular, devo observar, um nome foi originalmente escrito com um ck no final dele. Joseph, então, quer o nome corrigido, uma vez que as últimas letras não são ck, mas ch. E assim vemos naquele manuscrito original o nome com o ck riscado e a seguir escrito com ch em seu lugar. Ora, possivelmente, para nós, a maneira que pronunciaríamos ch ou um ck no final de uma palavra poderia ser aproximadamente a mesma coisa, como o som de um k. Mas em Hebreu, e em muitas outras línguas a ela relacionadas, há uma grande diferença entre uma e outra. Elas representam duas letras ou sons totalmente distintos.

Ele diz algo aqui que acho muito interessante também. A tradução foi feita precisamente como estava gravada nas placas, na mesma linguagem usada então. Ele disse que isso acontecia porque as sentenças apareciam, e eram lidas pelo profeta e a seguir escritas por Martin, neste particular exemplo, ou por Oliver mais tarde, e então elas desapareciam depois de serem apropriadamente escritas. Acho que isso nos proporciona uma chave de como a tradução aconteceu, mas não nos diz necessariamente a história completa. Pode ter ocorrido a ambos, a David tanto quanto a Martin certas pressuposições concernentes a como uma escritura é revelada de modo que possa não estar correta. Quero dizer com "inerrantous" que a ideia de que, o que quer que Joseph recebia procedia diretamente da mente de Deus para as mãos de Joseph.

Quero agora deixar claro que é minha firme crença que o Livro de Mórmon é de origem divina. Por outro lado, parece-me que Joseph está profundamente envolvido no processo de tradução, em um número de maneiras importantes. Uma delas é, acredito, que Joseph teve de fazer escolhas com relação a certas palavras que foram usadas na tradução inglesa. Creio que esse é o caso porque, como você certamente se lembra, na segunda edição do Livro de Mórmon de 1837, numerosas modificações foram feitas no Livro de Mórmon em inglês. E foram feitas por Joseph ou sob sua direção. Ora, se Joseph tivesse imaginado que tudo no Livro de Mórmon viera diretamente como Deus o revelara a ele sem qualquer possibilidade de modificação, porque, afinal, ele era expressamente e inteiramente, a palavra de Deus, e assim não estou certo se ele quereria fazer qualquer tipo de modificação.

Além disso, creio que o envolvimento de Joseph nesse processo todo de tradução é sugerido pelo que encontramos na seção nove de Doutrina e Convênios. Recordem-se que Oliver tinha um grande desejo de se envolver, não meramente como escrevente, mas também como tradutor, e então ele pediu que o dom de tradução fosse concedido também a ele. Oliver, então, é admoestado pelo Senhor, "Eis que não compreendeste; supuseste que eu o concederia a ti, quando nada fizeste a não ser pedir-me."

Então Oliver imaginou: "Tudo que tenho de fazer é dizer que desejo traduzir," e as palavras ser-lhe-ão dadas. Aí o Senhor diz, não, essa não é a maneira correta; ele continua e diz, "Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito; portanto sentirás que está certo." Novamente, eu de preferência, suspeito que Oliver tinha a ideia - se eu perguntar, o dom será dado a mim, e tendo o dom, não há um esforço particular envolvido de minha parte; eu simplesmente usarei os intérpretes, ou as pedras videntes, e serei capaz de traduzir. Mas aí ele aprende que é muito mais complicado e envolve um processo além daquilo.

Esses versículos, penso, sugerem que era requerido esforço por parte do tradutor; esforço real e genuíno. Buscar, encontrar a expressão apropriada, algo que não tivesse sido a situação, uma vez que é simplesmente revelado diretamente de Deus à mente e à pena do tradutor.

Existem mais evidências adicionais, creio, pois a ideia que estou a propor aqui, de que há real esforço envolvido por parte de Joseph, de que ele não está simplesmente, agora, escrevendo o que é dado direto à sua mente, mas está sendo requerido trabalhar idéias que lhe são dadas dentro de um inglês que seja coerente e aceitável em expressar as noções do texto original.

Temos um relato contemporâneo de um ministro, que era muito bem conhecido, tanto por suas atividades na Igreja Alemã Reformada quanto devotado inimigo da restauração. Seu nome era Deitrich Vilers. Ele estava escrevendo a dois colegas em York, Pennsylvania. Ele escreve em alemão. Ele fala a respeito da ascensão da Igreja, e inclui duas ou três afirmações que são muito interessantes. Compreendemos, naturalmente, que ele não está escrevendo como um crente, mas simplesmente alguém que reporta o que o povo é, naquele tempo, dizendo:

Ele diz: "O anjo indicava que sob essas placas haviam óculos escondidos, sem os quais ele não podia traduzir as placas; e, que por usar tais óculos, Smith encontrava-se numa posição de poder ler essas línguas antigas, as quais ele nunca estudara, e que o Espírito Santo revelara a ele a tradução para a língua inglesa. Vamos ler novamente essa última parte, pois acho isso muito interessante. Ele diz que com Urim e Tumim (os óculos) ele "estaria em posição (capacitado) a ler essas línguas antigas, as quais (Joseph) não havia estudado, (mas) que o Espírito Santo revelara a ele a tradução para a língua inglesa."

De acordo com um estudioso que escreveu sobre isso: "Assim, a tradução inglesa foi, de acordo com relatos contemporâneos, produto de impressões espirituais dadas a Joseph, mais do que aparição automática das palavras inglesas. Isso torna Joseph Smith, a despeito de suas limitações gramaticais, um tradutor, de fato, mais do que meramente um transcritor dos escritos de Deus."

Esse é o cenário que eu gostaria de sugerir. A Joseph é dado através de inspiração (por meio de Urim e Tumim, que é a pedra vidente ou os intérpretes nefitas), os meios pelos quais ele pode compreender palavras e idéias, e a relação entre essas palavras e idéias, da língua original tal como encontradas nas placas. Porém, cabe a Joseph a responsabilidade de colocar a seguir aquelas palavras de forma coerente na língua inglesa, tal como ele as compreendeu em sua mente.

Todos de nós que tiveram a experiência de aprender uma segunda língua pode saber que é possível chegar a um ponto em que não mais necessita traduzir da segunda língua para a língua nativa, a fim de ser capaz de compreendê-la. É possível ler simplesmente um documento e compreendê-lo sem traduzir palavra por palavra para o inglês.

Mas é também fato que o mesmo processo de tradução é, quando ele requer na verdade expressar aquelas ideias que alguém pode compreender na língua original sem realmente traduzir para o inglês, muito mais complicado quando há necessidade de expressar um inglês coerente. Alguém pode ser capaz de ler um documento em francês e compreendê-lo muito bem; mas se esse alguém foi solicitado, então, que traduza esse documento para o inglês, certamente requererá algum esforço real. O mesmo aconteceria se fosse um documento espanhol, alemão, e até mesmo um documento hebreu, ou seja que língua for que se selecione.

Deve ser muito fácil compreender na língua original - as idéias podem ser refletidas. Mas se alguém é solicitado fornecer alguma espécie de resumo, isto é, um breve sumário daquilo que diz, seria simples. Mas se essa pessoa é solicitada para fornecer uma tradução coerente, razoavelmente literal do material, há real dificuldade.

Requer esforço, muitas vezes uma grande quantidade de esforço.

Esse é o esforço, penso, que foi referido pelo Senhor na Seção Nove de Doutrina e Convênios. Oliver precisava compreender que ele tem de ponderar em sua mente de modo a se capacitar para traduzir com sucesso. Quais palavras usadas por Joseph são palavras dele próprio, apesar de as idéias terem sido fornecidas por inspiração do Senhor, uma vez que, naturalmente, ele não teve qualquer oportunidade de aprender a língua bem o bastante de modo a estar apto a traduzir por si mesmo.

Bem, penso que, se aceitarmos que o processo de tradução segue dessa maneira, que Joseph tinha de usar seu próprio esforço, a fim de ser capaz de traduzir as palavras para o inglês de modo satisfatório e que traduzisse o sentido original corretamente e de forma apropriada, então, penso que poderemos compreender o passo seguinte do processo, que é mencionado tanto por Martin Harris quanto por David Whitmer; isto é, quando uma tradução aceitável tenha sido escrutinada por Joseph, em sua mente, ela então podia aparecer no Urim e Tumim e ser lida a seguir.

Agora devemos perguntar, bem, não seria possível a alguém mais aparecer com uma tradução diferente? E a resposta para isso é absolutamente sim. De fato, George Albert Smith, que foi o sétimo Presidente da Igreja, e um membro do Quorum dos Doze, que conheceu bem Joseph, diz que teria sido possível traduzir o Livro de Mórmon em muitas línguas diferentes, de forma adequada em numerosas línguas, e ainda ter o sentido original expresso apropriadamente. Eu sei por experiência própria nas classes em que leciono línguas, que, se eu pedir a um grupo de cerca de seis estudantes que traduzam um mesmo texto para o inglês, é concebível que eu obtenha seis diferentes traduções, cada uma, devo admitir, ser aceitável por traduzir o sentido original de forma correta.

Isso quer dizer que uma única forma de traduzir um texto, provavelmente, pela natureza da língua, vá ser rejeitada. Numerosas maneiras são frequentemente utilizáveis, cada uma, aceitável ou com correção aceitável, expressará as idéias do original. Se alguma outra pessoa tivesse traduzido o Livro de Mórmon, eu provavelmente suspeitaria que algumas palavras poderiam ser diferentes, que parte da sintaxe poderia ter sido um pouco diferente, mas que o sentido não tinha sido modificado, desde que a pessoa estivesse traduzindo sob inspiração do Senhor.

Agora eu gostaria de ler alguns comentários que foram feitos por Emma com relação ao processo de tradução e que vão além tanto do instrumento, meios, método, mas que nos proporcionará alguma introspecção no amplo contexto de tradução de Joseph. Já nos referimos a uma na qual ela responde a pergunta de como Joseph traduzia.

Neste momento eu gostaria de observar algo mais que ela nos diz de sua própria experiência de quando agia como escrevente. Ela diz, a uma pessoa que lhe pergunta a respeito da tradução, "Quando meu marido estava traduzindo o Livro de Mórmon, eu escrevi parte dele." (e devemos manter em mente que houve muita gente que escreveu a tradução, ou que trabalhou como escrevente para a tradução do Livro de Mórmon, embora aquele que escreveu a maior parte do que agora conhecemos como o Livro de Mórmon, foi Oliver Cowdery).

Ela diz: "Eu escrevi parte dele à medida que ele ditava as sentenças, palavra por palavra; e quando ele chegava a nomes próprios ele não conseguia pronunciar, ou palavras longas, ele as soletrava. E, enquanto eu as escrevia, se eu cometesse um erro de ortografia, ele me interrompia corrigia o erro" (a mesma coisa que vemos mencionada por Martin Harris com relação ao processo de tradução), "embora fosse impossível a ele ver," ela disse, naquele momento, como eu as havia escrito".

"Algumas palavras que ele não sabia como pronunciar, até mesmo palavras como Sarah ou Sariah - ela disse - ele tinha que soletrá-las", e ela então as pronunciava para ele. "Quando ele parava por algum propósito, ele iniciava novamente a tradução, ele recomeçava de onde havia parado sem qualquer hesitação, e certa vez quando estava traduzindo ele parou subitamente, pálido como um lençol, e disse, ' Emma, Jerusalém antiga tinha muralha?' Quando eu respondi que tinha, ele replicou, ' Oh, eu estava com medo de haver me enganado.'" Ela escreveu, "Ele tinha um conhecimento tão limitado de história naquele tempo, que nem mesmo sabia que Jerusalém era cercada por muralhas."

Bem, David Whitmer diz quase a mesma coisa a respeito desse mesmo acontecimento. "Quando, ao traduzir, chegou-se pela primeira vez ao local onde Jerusalém era mencionada como sendo uma cidade cercada por muralhas, ele parou até eles encontrarem uma cópia da Bíblia e mostrarem-lhe onde aquilo estava registrado; Smith não acreditava que ela fosse uma cidade cercada.

Bem, Emma diz outras coisas maravilhosas, acho, no curso da longa entrevista que ela teve com seu filho, Joseph Smith III, com seu segundo marido, Major Bidemon, e muitos outros. Esta entrevista, que apareceu o Saints Heraldem 1879, um pouco antes de sua morte, é composta de perguntas e respostas. Eu gostaria de lê-la para vocês porque, novamente, ela nos fornece uma introspecção no Livro de Mórmon de tal forma importante e bela e um grande testemunho da pessoa que conheceu, melhor do que qualquer outra, a Joseph Smith, e que esteve mais próxima dele durante o tempo em que ele estava traduzindo o Livro de Mórmon, também do que qualquer outra pessoa.

A primeira pergunta é: "O que tem a dizer a respeito da verdade do Mormonismo?"

E a resposta: "Eu sei que o Mormonismo é a verdade e eu acredito que a Igreja foi estabelecida por divina direção. Tenho completa fé nisso. Quando escrevendo para seu pai - Joseph - eu escrevia, freqüentemente, dia após dia, normalmente assentada à mesa próxima dele, ele ditando, hora após hora, com nada entre nós."

Próxima pergunta: "Ele não tinha um livro ou manuscrito que lia e ditava para você?"

Sua resposta: "Ele não tinha manuscrito ou livro do qual ler."

Pergunta: "Ele não poderia ter e a senhora não ter visto?"

Resposta; "Caso tivesse algo semelhante ele não poderia ter ocultado de mim."

Pergunta: "Está certa de que ele tinha as placas durante o tempo em que escrevia para ele?"

Resposta: "As placas freqüentemente ficavam sobre a mesa sem qualquer tentativa de ocultá-las, envolvidas num pequeno forro de linho que eu lhe dei para embrulhá-las. Elas pareciam flexíveis como um papel duro e tiniam com um som metálico quando as bordas eram movidas pelo polegar, como uma pessoa fazem com as páginas de um livro." Pergunta: "Onde meu pai e Oliver escreviam?"

Resposta: "Oliver Cowdery e seu pai escreviam na sala onde eu trabalhava."

Pergunta: "Não poderia meu pai haver ditado o Livro de Mórmon para a senhora, ou para Oliver Cowdery, e outros que escreveram para ele, após ter escrito ou tendo primeiramente lido a história de algum outro livro?"

A resposta aqui é propositadamente forte, mas creio que isso proporciona algo muito importante. Ela diz: "Joseph Smith não conseguia ditar ou escrever de forma ordenada e coerente uma carta sequer, muito menos ditar um livro como o Livro de Mórmon. Embora eu fosse participante ativa nas situações e estivesse presente durante a tradução das placas, e tivesse conhecimento das coisas como transpareceram, é algo maravilhoso para mim, uma maravilha e um assombro tanto quanto para qualquer pessoa."

Pergunta: "Devo supor que a senhora poderia ter descoberto as placas e examinado-as."

Sua resposta: (isto, acho, reflete em sua própria fé de forma interessante): "Eu não tentei manusear as placas além do que lhe falei, nem mesmo as descobri para vê-las. Eu satisfazia-me saber que era um trabalho de Deus e, assim sendo, não senti que fosse necessário proceder dessa forma."

Nesse momento seu marido, Major Bidemon, perguntou: "O Sr.Smith proibiu-a de examinar as placas?"

E ela respondeu-lhe: "Não, ele não o fez. Eu sabia que ele as possuía e não estava particularmente curiosa a respeito delas. (E eu amo esta parte da resposta.) Eu as mudava de lugar para lugar sobre a mesa à medida que fosse necessário ao fazer meu trabalho de casa."

Bem, numa outra parte da mesma entrevista penso que também refletia um pouco de seu testemunho, tanto quanto nos proporciona uma visão desses eventos grandiosos.

Esta pergunta agora é de seu filho Joseph III: "Mãe, qual é sua crença a respeito da autenticidade e origem do Livro de Mórmon?"

E sua resposta: "Minha crença é que o Livro de Mórmon é de autenticidade divina. Eu não tenho a menor dúvida a esse respeito. Eu estou satisfeita [por saber que] nenhum homem poderia ter ditado e escrito o manuscrito a menos que estivesse inspirado. Pois, quando estava servindo de escrevente, seu pai ditava para mim, hora após hora, e quando voltávamos após as refeições, ou depois de interrupções, ele reiniciava imediatamente da parte onde havia parado, sem ver o manuscrito ou ouvir qualquer parte disso lida para ele; isso era algo comum que ele fazia. Parece-me improvável que homens letrados possam fazer isso, e para alguém com pouco preparo como ele então, seria inteiramente impossível."

Bem, existe também um outro grande testemunho do trabalho de tradução de Joseph. Eu gostaria de ler o que David Whitmer nos fala sobre a disposição que Joseph tinha de ter para fazê-lo. Não devemos imaginar que Joseph poderia fazê-lo automaticamente. Já vimos através da

história de Martin Harris que se tratava de uma pedra muito particular que era denominada pedra vidente, assim ele precisava encontrar-se com disposição apropriada a fim de estar apto a usar as pedras videntes ou os intérpretes nefitas.

David conta esta história: "certa manhã quando Joseph se preparava para continuar a tradução, algo errado aconteceu na casa, e Joseph descontrolou-se a respeito daquilo. Algo que Emma, sua esposa, tinha feito. Oliver e eu subimos para o andar superior e pouco depois Joseph subiu para continuar a tradução, mas ele nada pôde fazer. Ele não conseguia traduzir uma sílaba sequer. Ele então desceu as escadas, foi para o jardim, e suplicou ao Senhor. Uma hora já havia se passado quando ele voltou para a casa, pediu perdão a Emma, e a seguir subiu para onde estávamos e a tradução continuou normalmente. Ele nada podia fazer, a menos que fosse humilde e fiel."

Muitas outras coisas poderiam ser ditas sobre a tradução. Apenas mais um par delas eu gostaria de mencionar para terminar. Primeiro, a menos que imaginemos que esse processo de tradução era algo simples, algo que qualquer pessoa poderia fazer, eu gostaria de sugerir o teste que o irmão Hugh Nibley sugeriu para qualquer pessoa que queira fazê-lo. Até este momento, a propósito, não conheço ninguém que o tenha aceitado, embora o Livro de Mórmon tenha muitos que questionam sua divina autenticidade.

Isto é o que ele sugere a alguns de suas classes do Livro de Mórmon:

Uma vez que Joseph Smith era mais jovem do que a maioria de vocês [agora, naturalmente, ele está falando a um grupo de estudantes da BYU], e de forma alguma tão experiente ou bem educado como qualquer um de vocês no tempo em que ele registrou o Livro de Mórmon, não seria muito pedir a vocês que tragam pelo final do semestre (que naturalmente lhes proporciona mais tempo do que ele tinha, uma vez que todo o Livro de Mórmon foi concluído dentro de um espaço de 84 dias ou quase), um trabalho com 500-600 páginas de extensão.

Chamem-no um livro sagrado se quiserem, e lhes dê a forma de uma história. Falem de uma comunidade de judeus errantes em tempos antigos. Coloquem todo tipo de personagens em sua história, e envolva-os em todo tipo de vicissitudes públicas e privadas. Deem-lhes nomes, centenas deles, com a pretensão de que são nomes hebreus e egípcios de cerca de 600 anos A.C. Sejam pródigos com os detalhes da cultura e técnica, modos e costumes, artes e indústrias, política e instituições religiosas, ritos e tradições. Incluam histórias militares e econômicas complicadas. Façam sua narrativa cobrir mil anos sem espaços muito grandes. Mantenham um número de histórias locais inter-relacionadas acontecendo ao mesmo tempo. Fiquem à vontade para incluir controvérsia religiosa e discussões filosóficas, sempre em ambiente plausível.

Observem as convenções literárias apropriadas e expliquem a origem e transmissão de seu material histórico variado.

Acima de tudo, jamais se contradigam. Pois, agora nos encontramos na verdadeira parte mais difícil dessa tarefa. Vocês e eu sabemos que vocês estão inventando tudo isso.

Temos nossa piadinha. Mas da mesma maneira, ser-lhes-á requerido publicar o documento quando o terminarem, não como ficção ou romance, mas como história verdadeira.

Após entregá-lo não poderão fazer qualquer modificação. Nesta classe sempre usamos a primeira edição do Livro de Mórmon. O que é mais importante, vocês deverão convidar qualquer e todos os estudiosos para lerem e criticarem seu trabalho livremente, explicando-lhes que se trata de um livro sagrado par e passo com a Bíblia. Se eles parecerem céticos, vocês deverão dizer-lhes que traduziram o livro a partir de registros originais com a ajuda de Urim e Tumim. Eles vão amar isso! A seguir, para todas suas duvidas, vocês devem dizer-lhes que o manuscrito original eram placas de ouro e que as obtiveram de um anjo!

Agora mãos à obra e boa sorte!

Considerem isso como uma tarefa dada a Joseph - e isso é precisamente o que aconteceu.

Sidney Rigdon, refletindo sobre suas experiências nos primórdios da Igreja, recordou em abril de 1844, algo que considero muito interessante de contar. Ele diz, "Recordo que no ano de 1830, encontrava-me com todos da Igreja de Cristo numa pequena e velha casa feita de toras de madeira com cerca de 20 pés quadrados, em Waterloo, Nova York, e começamos a falar sobre o Reino de Deus como se tivéssemos o mundo sob nosso comando. Falávamos com grande confiança. Falávamos de coisas grandiosas. Embora não fossemos muitos, tínhamos grandes sentimentos.

Sabíamos há quatorze anos atrás que a Igreja se tornaria tão grande quanto é hoje. Éramos maiores então do que jamais fomos. Se não tivéssemos visto este povo, pois vimos em visão a Igreja de Deus mil vezes maior, embora não passássemos de homens rústicos bons para a fazenda, ou para encontrarmos uma mulher com um balde de leite. Todos os Élderes, todos os membros, reunidos em conferência numa sala de 20 pés quadrados."

Particularmente imagino que Sidney e outros membros nos primórdios da Igreja também tenham tido uma visão, não meramente dos anos da Igreja na década de 1840, mas em nossos próprios dias, e puderam prever o tipo de crescimento que temos tido. Mas não é meramente o crescimento que vem através de números que estamos procurando, mas a firmeza de cada indivíduo que se tornam membros através de testemunho. Estou certo que uma das razões que os presidentes da Igreja, mais recentemente o Presidente Benson, têm dado tanta ênfase na importância de lermos e estudarmos o Livro de Mórmon é por não haver melhor caminho onde possamos nos tornar fortes na Igreja, e ganharmos aquele testemunho que nos capacitará fazer nossa parte no cumprimento desse destino do que através do Livro de Mórmon.


Eu vejo o Livro de Mórmon como um dos grandes dons que nos foi dado por Deus nesta dispensação. 

Tal como a restauração possibilitou trazer à luz a "obra maravilhosa e um assombro" que foi profetizada por Néfi, uma parte muito importante dessa "obra maravilhosa e um assombro" foi o surgimento do Livro de Mórmon. 

Confio em que levaremos seriamente a cabo a obrigação de ler e estudá-lo, que começaremos a apreciar quão maravilhoso ele é, tanto pelo maneira que ele surgiu, como naquilo que ele nos diz. 

Oro para que possamos lê-lo, que o estudemos, que o levemos a sério em nossas vidas, e que cresçamos com ele, em nome de Jesus Cristo. Amém.