Walking On Water by Mick McGinty - Fonte: http://twiceaweek.blogspot.com |
Meus queridos
irmãos e irmãs, expresso-lhes todo o meu amor. Sinto-me humilde pela
responsabilidade de falar-lhes, mas também grato pela oportunidade de
fazê-lo.
Desde a última vez em que nos
reunimos numa conferência geral, há seis meses, houve sinais contínuos
de que a situação do mundo não está exatamente como gostaríamos que
estivesse. A economia mundial, que há seis meses parecia estar
afundando, agora parece ter mergulhado de cabeça, e há muitas semanas
que as perspectivas econômicas parecem estar um tanto sombrias. Além
disso, o esteio moral da sociedade continua decaindo, ao passo que
aqueles que procuram salvaguardar esse alicerce são frequentemente
ridicularizados e, às vezes, combatidos e perseguidos. Continua a haver
guerras, catástrofes naturais e infortúnios pessoais.
Seria
fácil ficarmos desanimados e descrentes em relação ao futuro, ou até
temerosos do que está por vir, se nos concentrássemos apenas no que está
errado no mundo e em nossa vida. Hoje, em vez disso, gostaria de
afastar nossos pensamentos e atitude dos problemas que nos cercam e
centralizar a atenção nas bênçãos que temos como membros da Igreja. O
Apóstolo Paulo declarou: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor,
mas de fortaleza, e de amor, e de moderação”.1
Ninguém
passa pela vida sem problemas e desafios, e mesmo tragédias e
infortúnios. Afinal, em grande parte, estamos aqui para aprender e
crescer por meio desses acontecimentos em nossa vida. Sabemos que há
momentos em que teremos sofrimento, pesar e tristeza. Contudo, foi-nos
dito: “Adão caiu para que os homens existissem; e os homens existem para
que tenham alegria”.2
Como
podemos ter alegria na vida a despeito de tudo que venhamos a
enfrentar? Novamente, as escrituras declaram: “Portanto tende bom ânimo e
não temais, porque eu, o Senhor, estou convosco e ficarei ao vosso
lado”.3
A
história da Igreja nesta dispensação da plenitude dos tempos está
repleta de experiências de pessoas que enfrentaram dificuldades, mas
ainda assim permaneceram firmes e tiveram bom ânimo, centralizando a
vida no evangelho de Jesus Cristo. Essa atitude vai ajudar-nos a superar
qualquer coisa que venhamos a enfrentar. Não vai fazer nossos problemas
desaparecerem, mas vai permitir que enfrentemos os desafios com coragem
e saiamos deles vitoriosos.
São
incontáveis os exemplos de pessoas que enfrentaram situações difíceis,
mas perseveraram e venceram graças à fé no evangelho e no Salvador que
lhes deram a força de que necessitavam. Hoje, porém, gostaria de
compartilhar com vocês três desses exemplos.
Primeiro, da minha própria família, gostaria de mencionar uma experiência tocante que sempre foi uma inspiração para mim.
Meus
bisavós maternos, Gibson e Cecelia Sharp Condie moravam em Clackmannan,
Escócia, e sua família trabalhava na mineração de carvão. Estavam em
paz com o mundo, cercados de parentes e amigos, tendo uma casa
razoavelmente confortável no país que amavam. Então, ouviram a mensagem
dos missionários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
e se converteram do fundo da alma. Ouviram o chamado para que os santos
se reunissem em Sião e souberam que precisavam atender a esse chamado.
Por
volta de 1848, venderam suas propriedades e se prepararam para a
perigosa viagem através do imenso Oceano Atlântico. Com cinco filhos
pequenos, subiram a bordo de um navio a vela, com tudo o que possuíam
neste mundo dentro de um pequeno baú. Viajaram quase cinco mil
quilômetros de navio: oito longas e cansativas semanas no mar
traiçoeiro, observando e esperando, consumindo água e alimentos de má
qualidade, sem contar com nenhuma ajuda fora daquele pequeno navio.
No
meio daquela situação angustiante, um dos filhos pequenos, ficou
doente. Não havia médico ou farmácia onde pudessem comprar remédios para
aliviar seu sofrimento. Cuidaram dele, oraram, esperaram e choraram, ao
verem seu estado de saúde piorar dia a dia. Quando finalmente seus
olhos se fecharam na morte, sentiram o coração dilacerado. Para aumentar
sua dor, as leis do mar precisavam ser cumpridas. Envolto em uma lona
amarrada a um peso de ferro, o pequeno corpo foi lançado às águas, que
foram sua sepultura. Ao prosseguirem a viagem, somente aqueles pais
sabiam do peso esmagador que lhes oprimia o coração partido.4
No entanto, com uma fé proveniente de sua profunda convicção da verdade
e de seu amor pelo Senhor, Gibson e Cecelia permaneceram firmes. Foram
consolados por estas palavras do Senhor: “No mundo tereis aflições, mas
tende bom ânimo, eu venci o mundo”.5
Quão
grato sou por ter antepassados que tiveram fé suficiente para deixar
seu lar confortável e viajar para Sião, fazendo sacrifícios que mal
consigo imaginar. Agradeço a meu Pai Celestial pelo exemplo de fé,
coragem e determinação que Gibson e Cecelia Sharp Condie deixaram para
mim e para toda a sua posteridade.
Apresento,
em seguida, um homem educado e cheio de fé que foi um epítome da paz e
alegria que o evangelho de Jesus Cristo pode proporcionar à vida de uma
pessoa.
Certo dia, tarde da noite,
numa ilha do Pacífico, um pequeno bote aportou em silêncio no tosco
cais. Duas mulheres polinésias ajudaram Meli Mulipola a sair do barco e o
conduziram pelo caminho de terra que levava até a estrada da vila. As
mulheres ficaram admiradas com as estrelas reluzentes que brilhavam no
céu da meia-noite. O luar as guiava pelo caminho. No entanto, Meli
Mulipola não podia apreciar as maravilhas da natureza — a lua, as
estrelas, o céu — porque ele era cego.
O
irmão Mulipola tivera visão normal até o dia fatídico em que, ao
trabalhar numa plantação de abacaxis, a luz subitamente se tornou em
trevas e o dia se transformou numa noite eterna. Sentiu-se deprimido e
desanimado até conhecer as “boas novas” do evangelho de Jesus Cristo.
Colocou a vida em harmonia com os ensinamentos da Igreja e novamente
sentiu esperança e alegria.
O irmão
Mulipola e seus entes queridos fizeram uma longa viagem, ao saber que um
portador do sacerdócio de Deus visitaria a Oceania. Ele queria receber
uma bênção, e tive o privilégio, juntamente com outro portador do
Sacerdócio de Melquisedeque, de dar-lhe essa bênção. Ao terminarmos,
percebi que lágrimas rolavam de seus olhos sem visão, correndo pelo
rosto moreno e pingando em sua roupa nativa. Ele caiu de joelhos e orou:
“Ó Deus, tu sabes que estou cego. Teus servos me abençoaram para que eu
possa recuperar a visão. Quer em Tua sabedoria eu veja luz ou permaneça
em trevas durante todos os dias de minha vida, eu Te serei eternamente
grato pela veracidade de Teu evangelho, que agora vejo, e que me
proporciona a luz da minha vida”. Ergueu-se e, sorrindo, agradeceu-nos
por ter-lhe dado a bênção. Em seguida, foi-se embora na calada da noite.
Em silêncio chegou, em silêncio partiu. Mas jamais me esquecerei de sua
presença, que me fez refletir nesta mensagem do Mestre: “Eu sou a luz
do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”.6
Meus irmãos e irmãs, todos temos essa luz na vida. Não estamos abandonados e sozinhos, por mais escuro que seja nosso caminho.
Gosto imensamente destas palavras escritas por M. Louise Haskins:
Eu disse ao homem que estava junto ao portão do ano:
“Dê-me luz para que eu possa caminhar com segurança para o desconhecido!”
Mas ele respondeu:
“Saia para o meio das trevas e pegue a mão de Deus.
Isso será melhor para você do que uma luz, e mais seguro do que um caminho conhecido.”7
O relato de meu último exemplo
de pessoa que perseverou e por fim venceu, a despeito de situações
extremamente difíceis, começa na Prússia Oriental, depois da Segunda
Guerra Mundial.
Por volta de março de
1946, menos de um ano após o final da guerra, Ezra Taft Benson, que na
época era membro do Quórum dos Doze, acompanhado por Frederick W.
Babbel, recebeu o encargo especial de viajar pela Europa com o intuito
específico de reunir-se com os santos, avaliar suas necessidades e
prover-lhes assistência. O Élder Benson e o irmão Babbel contaram mais
tarde, com base no testemunho que ouviram, a experiência pessoal de uma
irmã da Igreja que foi parar numa região que já não era controlada pelo
governo do país em que ela morara.
Ela
e o marido tiveram uma vida de sonho na Prússia Oriental. Teve início,
então, a Segunda Guerra Mundial. Seu amado e jovem marido foi morto nos
últimos dias das terríveis batalhas travadas no seu país de origem,
deixando-a sozinha para cuidar de quatro filhos.
As
forças de ocupação determinaram que os alemães da Prússia Oriental
deveriam ir para a Alemanha Ocidental procurar um novo lar. A mulher era
alemã, portanto teve que ir. Era uma viagem de mais de 1.600
quilômetros, e ela não tinha como fazê-la a não ser a pé. Foi-lhe
permitido carregar apenas alguns pertences básicos que conseguiu colocar
em seu pequeno carrinho de rodas de madeira. Além dos filhos e uns
poucos pertences, ela levava consigo uma vigorosa fé em Deus e no
evangelho revelado ao profeta moderno, Joseph Smith.
Ela
e os filhos começaram a viagem no final do verão. Sem comida nem
dinheiro, foi obrigada a coletar seu sustento diário nos campos e
florestas ao longo do caminho. Enfrentou constantes perigos ao
deparar-se com refugiados em pânico e soldados que pilhavam.
À
medida que os dias se tornaram semanas, e as semanas, meses, a
temperatura caiu abaixo de zero. Ela seguiu trôpega a cada dia, andando
sobre o solo congelado, com a filha caçula, apenas um bebê, nos braços.
Seus outros três filhos seguiam-na com dificuldade, e o mais velho, de
sete anos, puxava o carrinho de madeira contendo seus pertences. Tiras
velhas de sacos de estopa envolviam seus pés, provendo a única proteção
para eles, porque os sapatos, havia muito, tinham-se desintegrado.
Contavam apenas com casacos leves e puídos que lhes cobriam as roupas
leves e rotas como única proteção contra o frio.
Pouco
depois, começou a nevar, e os dias e as noites se tornaram um pesadelo.
À noite, ela e as crianças procuravam algum tipo de abrigo, um celeiro
ou barracão, e se aninhavam uns aos outros para manter o calor, debaixo
de leves cobertores tirados do carrinho.
Ela se esforçava muito para expulsar da mente o terrível temor de que pereceriam antes de chegar a seu destino.
Então,
certa manhã, algo inimaginável aconteceu. Ao acordar, sentiu um
calafrio no coração. O corpinho da filha de três anos estava frio e
inerte, e ela percebeu que a morte havia levado a criança. Embora
estivesse arrasada com o sofrimento, sabia que precisaria pegar os
outros filhos e prosseguir a viagem. Antes, porém, usou sua única
ferramenta, uma colher, para cavar uma sepultura no chão congelado para
sua preciosa filhinha.
A morte,
porém, seria sua companheira constante durante toda a jornada. Seu filho
de sete anos morreu, de fome ou de frio, ou ambos. Novamente, sua única
pá era a colher, e novamente ela cavou por várias horas para depositar
carinhosamente os restos mortais dele na terra. Em seguida, seu filho de
cinco anos também morreu, e novamente ela usou a colher como pá.
Seu
desespero era devastador. Só lhe restara sua pequena filha bebê, que
estava com a saúde debilitada. Por fim, ao chegar ao fim da jornada, o
bebê morreu em seus braços. Ela havia perdido a colher, por isso cavou o
solo congelado com as próprias mãos, por várias horas. Sua dor
tornou-se insuportável. Como conseguiria ajoelhar-se na neve ao lado da
sepultura de sua última filha? Tinha perdido o marido e todos os filhos.
Havia perdido todos os bens terrenos, seu lar e até seu país natal.
Nesse
momento de terrível angústia e total desespero, sentiu que seu coração
literalmente se despedaçava. Em desespero, imaginou como daria fim à
própria vida, como muitos de seus compatriotas estavam fazendo. Seria
muito fácil pular de uma ponte das redondezas, pensou ela, ou jogar-se
na frente de um trem.
Então, quando
esses pensamentos a atormentavam, algo dentro dela lhe disse:
“Ajoelhe-se e ore”. Ela ignorou o sentimento até não conseguir mais
resistir a ele. Ajoelhou-se e orou mais fervorosamente do que jamais
havia feito em toda a vida:
“Querido
Pai Celestial, não sei mais como prosseguir. Nada me restou, a não ser
minha fé em Ti. Sinto, Pai, em meio à desolação de minha alma, uma
imensa gratidão pelo sacrifício expiatório de Teu Filho Jesus Cristo.
Não consigo expressar todo o amor que sinto por Ele. Sei que, por Ele
ter sofrido e morrido, eu viverei novamente com minha família. Sei que,
por Ele ter rompido as cadeias da morte, eu verei meus filhos de novo e
terei a alegria de criá-los. Embora neste momento eu não tenha o desejo
de viver, eu o farei, para que possa reunir-me com eles como família e
retornarmos — juntos — a Tua presença.”
Quando
ela finalmente chegou a seu destino, em Karlsruhe, Alemanha, estava
muito magra. O irmão Babbel disse que o rosto dela tinha uma coloração
roxo-acinzentada, os olhos estavam vermelhos e inchados, e as
articulações salientes. Estava, literalmente, em estado avançado de
desnutrição. Numa reunião da Igreja realizada pouco depois, ela prestou
um glorioso testemunho, declarando que, de todas as pessoas que sofriam
em seu triste país, ela era uma das mais felizes, porque sabia que Deus
vive, que Jesus é o Cristo, e que Ele morreu e ressuscitou para que
todos possamos viver novamente. Testificou que sabia que, se continuasse
fiel e leal até o fim, ela se reuniria com aqueles que havia perdido e
seria salva no reino celestial de Deus.8
Lemos
nas santas escrituras:
“Eis que os justos, os santos do Santo de Israel, os que tiverem acreditado [Nele], os que tiverem suportado as cruzes do mundo (…) herdarão o reino de Deus, (…) e sua alegria será completa para sempre”.9
“Eis que os justos, os santos do Santo de Israel, os que tiverem acreditado [Nele], os que tiverem suportado as cruzes do mundo (…) herdarão o reino de Deus, (…) e sua alegria será completa para sempre”.9
Testifico
a vocês que as bênçãos que nos foram prometidas são imensuráveis.
Embora se formem nuvens de tempestade, embora a chuva seja derramada
sobre nós, nosso conhecimento do evangelho e nosso amor pelo Pai
Celestial e por nosso Salvador vão consolar-nos e dar-nos alento e
alegria ao coração, se andarmos em retidão e guardarmos os mandamentos.
Não haverá nada neste mundo que possa nos derrotar.
Meus amados irmãos e irmãs, não temam. Tenham bom ânimo. O futuro é tão brilhante quanto sua fé.
Declaro
que Deus vive e que Ele ouve e atende nossas orações. Seu Filho Jesus
Cristo é nosso Salvador e Redentor. As bênçãos do céu estão reservadas
para nós. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Notas:
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