Élder Jeffrey R. Holland
O Profeta Joseph Smith aprofundou nosso conhecimento do poder da palavra quando ensinou:
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Conferência Geral, Abril 2007
Nossas palavras, tal como nossas ações, devem ser cheias de fé, esperança e caridade.
2011, http://ldsmediatalk.com |
“É pelas palavras (…) [que] todo ser opera quando opera pela fé.
Deus disse: ‘Haja luz; e houve luz’. Josué falou, e as grandes luzes
que Deus havia criado ficaram paradas. Elias, o profeta, ordenou, e os
céus se contiveram pelo espaço de três anos e seis meses, de modo que
não choveu. (…) Tudo isso foi feito pela fé. (…) A fé, portanto, opera pelas palavras; e com [palavras] suas obras mais poderosas foram e serão realizadas”.1 Como todas as dádivas que “vêm de cima”, as palavras são sagradas e devem ser ditas “com cuidado e por indução do Espírito”.2
É
com essa compreensão do poder e santidade das palavras que desejo
prevenir a todos, se é que isso é preciso, quanto ao modo como falamos
uns com os outros e como falamos de nós mesmos.
Há
um versículo de um livro apócrifo que expressa a seriedade dessa
questão melhor do que eu. É o seguinte: “O golpe do chicote deixa marcas
na carne; mas o golpe da língua quebra os ossos”.3
Com essa forte imagem em mente, fui particularmente inspirado a ler no
livro de Tiago que há um modo pelo qual eu posso me tornar “perfeito”.
Tiago disse: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. [Mas] se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo”.
Dando
continuidade à imagem do freio, ele escreveu: “Ora, nós pomos freio nas
bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o
seu corpo.
Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme”.
Então, Tiago chega aonde pretendia:
“Assim também a língua é um pequeno membro. (…) [Mas] vede quão grande [floresta (em grego)] um pequeno fogo [pode incendiar].
“Assim também a língua é um pequeno membro. (…) [Mas] vede quão grande [floresta (em grego)] um pequeno fogo [pode incendiar].
(…) A língua [é um fogo,] posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, (…) e é inflamada pelo inferno.
Porque
toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis
como de animais do mar (…) foi domada pela natureza humana;
Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim”.4
Ora, isso foi muito direto! Evidentemente, Tiago não quis dizer que nossa língua é sempre iníqua, tampouco que tudo
o que dizemos é “cheio de peçonha mortal”, mas fica claro que ele quis
dizer que ao menos algumas coisas que dizemos podem ser destrutivas, até
venenosas—e essa é uma acusação assustadora para um santo dos últimos
dias! A voz que presta um profundo testemunho, profere orações
fervorosas e canta os hinos de Sião pode ser a mesma voz que
deprecia e critica, envergonha e rebaixa, inflige dor e destrói seu
próprio espírito e o de outras pessoas no processo. “De uma mesma boca
procede bênção e maldição”, lamenta Tiago. “Meus irmãos [e irmãs], não
convém que isto se faça assim.”
Não
será isso algo no qual todos podemos melhorar um pouquinho? Não será um
ponto em que todos podemos tentar ser um pouco mais perfeitos?
Marido,
foi-lhe confiada a dádiva mais sagrada que Deus pode conceder: uma
esposa, uma filha de Deus, a mãe de seus filhos que voluntariamente se
dedicou a você por amor e agradável companhia.
Pense no tipo de coisas
que você dizia quando estavam namorando, pense nas bênçãos que você lhe
deu impondo as mãos sobre a cabeça dela com todo o carinho, pense em
você e nela como o deus e a deusa que vocês são em potencial e, depois,
reflita a respeito de outros momentos marcados por palavras frias,
cáusticas e impensadas. Em vista dos danos que podem ser causados pela
língua, não admira que o Salvador tenha dito: “O que contamina o homem
não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina
o homem”.5
O marido que nunca sonharia em agredir a esposa fisicamente é capaz de
partir-lhe, se não os ossos, certamente o coração, pela brutalidade de
palavras impensadas ou rudes. Os maus-tratos físicos são unânime e
inequivocamente condenados na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias. Se for possível ser mais condenatório ainda, denunciamos
mais vigorosamente todas as formas de abuso sexual. Hoje, censuro os
maus-tratos verbais e emocionais que qualquer pessoa inflija a qualquer
outra, mas especialmente os do marido contra a mulher. Irmãos, não
convém que isto se faça assim.
Nesse
mesmo espírito, falamos também às irmãs, porque o pecado dos maus-tratos
verbais não existe apenas nos homens. Esposas, o que dizer da sua língua desenfreada, ou do bem ou mal que as suas
palavras podem fazer? Como pode uma voz tão encantadora, que por
natureza divina é tão angelical, tão naturalmente espiritual, tão
instintivamente gentil e intrinsecamente bondosa, tornar-se estridente,
mordaz, ácida e descontrolada? As palavras de uma mulher podem ser mais
cortantes do que qualquer adaga já forjada e podem fazer com que seus
entes queridos se ocultem por trás de uma barreira mais intransponível
do que se poderia imaginar no início da conversa. Irmãs, não há lugar
nesse seu espírito magnífico para qualquer tipo de expressão ácida ou
cáustica, inclusive para a fofoca, a difamação ou os comentários
maldosos. Que jamais se possa dizer, de nossa casa, ala ou vizinhança,
que “a língua (…) é um fogo; como mundo de iniquidade [queimando] entre
os nossos membros”.
Gostaria de
ampliar esse conselho para aplicá-lo a toda a família. Precisamos ser
muito cuidadosos ao falar com as crianças. O que dizemos ou deixamos de
dizer, como dizemos e quando dizemos são elementos extremamente
importantes na formação da imagem que a criança tem de si mesma; mas
isso é ainda mais importante na formação da fé que a criança tem em nós e
da fé que tem em Deus. Sejam edificantes nos comentários que fazem às
crianças —sempre. Nunca digam para uma criança, nem por brincadeira, que
ela é gorda, burra, preguiçosa ou feia. Vocês jamais fariam isso por
maldade, mas elas se lembrarão disso e podem passar vários anos tentando
esquecer — e perdoar. E não tentem comparar seus filhos uns com outros,
mesmo que achem que sabem fazer isso com tato. Vocês podem dizer de
modo muito positivo que “Susana é bonita, e Sandra é inteligente”, mas
Susana só vai-se lembrar que não é inteligente, e Sandra, que não é
bonita. Elogiem cada filho individualmente pelo que ele é, e ajudem-no a
escapar da obsessão de nossa cultura em comparar, competir e de nunca
sentir que somos “suficientemente bons”.
Nisso
tudo, suponho que não seja nem preciso dizer que as palavras negativas
geralmente são resultado de pensamentos negativos, inclusive a nosso
próprio respeito. Vemos nossas próprias faltas, falamos (ou ao menos
pensamos) de modo crítico a nosso próprio respeito e, em pouco tempo, é
assim que passamos a ver a tudo e a todos, sem um raio de sol, sem rosas
nem qualquer promessa de esperança ou felicidade. Em pouco tempo, nós e
todos ao nosso redor passamos a nos sentir péssimos.
Adoro
o que o Élder Orson F. Whitney disse certa vez: “O espírito do
evangelho é otimista; ele confia em Deus e olha para o lado positivo das
coisas. O oposto, ou o espírito pessimista, arrasta os homens para
baixo e para longe de Deus, olha para o lado sombrio, murmura, reclama e
é lento em obedecer”.6
Devemos honrar a declaração do Salvador de “ter bom ânimo”.7
(De fato, parece-me que esse é o mandamento que mais transgredimos!)
Digam coisas positivas. Digam coisas animadoras, inclusive a respeito de
si mesmos. Tentem não reclamar nem resmungar incessantemente. Dizem por
aí que até quando a vida é um mar de rosas há quem reclame dos
espinhos.
Muitas vezes penso que Néfi
deve ter achado mais fácil ser amarrado e espancado do que ouvir as
constantes lamúrias de Lamã e Lemuel.8
Ele deve ter dito, com certeza, pelo menos uma vez: “Batam mais! Podem
bater até eu não ter mais que ouvir vocês!” É, a vida tem problemas; é
verdade, há coisas negativas a enfrentar, mas, por favor, aceitem uma
das máximas de vida do Élder Holland: “Não há desgraça na vida que a
lamúria não piore”.
Paulo falou com
toda franqueza, mas com muito otimismo, dizendo para todos nós: “Não
saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para
promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.
E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, (…)
Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam tiradas dentre vós (…)
Antes
sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos
uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.”9
Em
seu profundo e tocante testemunho final, Néfi nos conclama a
“[seguirmos] o Filho [de Deus] com todo o coração”, prometendo: “depois
de (…) haverdes recebido o batismo de fogo e do Espírito Santo
[podereis] falar em uma língua nova, sim, na língua de anjos. (…) E como
poderíeis falar a língua de anjos se não fosse pelo Espírito Santo? Os
anjos falam pelo poder do Espírito Santo; falam, portanto, as palavras
de Cristo.”10 De fato, Cristo foi e é “o Verbo”, de acordo com João, o amado,11 cheio de graça e verdade, cheio de misericórdia e compaixão.
Portanto,
irmãos e irmãs, nessa longa jornada eterna para tornarmo-nos mais
semelhantes ao Salvador, procuremos ser homens e mulheres “perfeitos” ao
menos em um aspecto: não tropeçando em palavra; ou, para dizer
claramente, falando em uma nova língua, a língua dos anjos. Nossas
palavras, tal como nossas ações, devem ser cheias de fé, esperança e
caridade, os três grandes princípios cristãos que são tão
desesperadamente necessários no mundo atual. Com palavras assim,
proferidas sob a influência do Espírito, lágrimas podem ser enxutas,
corações podem ser curados, vidas podem ser elevadas, a esperança pode
retornar, a confiança pode prevalecer.
Oro para que minhas palavras sobre esse tema difícil não lhes tirem o alento, mas lhes sirvam de incentivo; que vocês percebam em minha voz que eu os amo, porque isso é verdade, e, o que é mais importante, saibam que o Pai Celestial os ama, e Seu Filho Unigênito também.
Quando Eles falarem a vocês — e hão de falar — não será no vento nem no terremoto nem no fogo, mas com uma voz mansa e delicada, uma voz terna e bondosa:12 será na língua dos anjos.
Que todos nos regozijemos na ideia de que, quando dizemos coisas edificantes e animadoras ao menor destes nossos irmãos, irmãs e pequeninos, as dizemos a Deus.13 Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Oro para que minhas palavras sobre esse tema difícil não lhes tirem o alento, mas lhes sirvam de incentivo; que vocês percebam em minha voz que eu os amo, porque isso é verdade, e, o que é mais importante, saibam que o Pai Celestial os ama, e Seu Filho Unigênito também.
Quando Eles falarem a vocês — e hão de falar — não será no vento nem no terremoto nem no fogo, mas com uma voz mansa e delicada, uma voz terna e bondosa:12 será na língua dos anjos.
Que todos nos regozijemos na ideia de que, quando dizemos coisas edificantes e animadoras ao menor destes nossos irmãos, irmãs e pequeninos, as dizemos a Deus.13 Em nome de Jesus Cristo. Amém.
-
Lectures on Faith, 1985, pp. 72–73; grifo do autor.
-
D&C 63:64.
-
Eclesiástico 28:21 ou 28:17 [dependendo da edição].
-
Tiago 3:2–10; grifo do autor.
-
Mateus 15:11.
-
Conference Report, abril de 1917, p. 43.
-
Mateus 14:27; Marcos 6:50; João 16:33.
-
Ver 1 Néfi 3:28-31; 18:11–15.
-
Efésios 4:29–32.
-
2 Néfi 31:13–14; 32: 2–3.
-
João 1:1.
-
Ver I Reis 19:11–12.
-
Ver Mateus 25:40.