30/09/2019

O Mundo Espiritual, Nosso Futuro Lar

Dale C. Mouritsen
Diretor de Área de Seminários e institutos de San José,
Califórnia, e Presidente Sênior do Quórum dos Setenta da
Estaca Santa Clara, Califórina.
Ensign, January 1977

Sempre que ouço e participo de debates sobre o tema "após a morte, o quê?", com alunos e famílias de diversas áreas da Igreja, tenho observado as pessoas manifestarem dois tipos de sentimentos: um grande desejo de saber mais a respeito da vida espiritual pós-terrena (daqui por diante citada apenas como mundo espiritual) e um receio injustificável de perguntarem a respeito dele, como se o mundo espiritual fosse um assunto que não devemos discutir.

Creio que é muito apropriado termos cautela ao debater um assunto tão sagrado, especialmente porque existe muita informação "popular" na sociedade contemporânea a respeito do mundo espiritual, envolvendo histórias sensacionais de fantasmas, demonismo e outros problemas semelhantes. Todavia, o simples desejo de obter mais conhecimento sobre esse assunto, é bastante louvável. Nossos amados parentes que partiram habitam aquele mundo, e logo nos juntaremos a eles. É um assunto muito saudável e sagrado, e devemos discuti-lo com essa atitude.

Além disso, o Profeta Joseph Smith declarou que os santos devem aprender qual é o propósito da vida e da morte. Na verdade, devem estudar esse assunto "mais do que qualquer outro" - "deveríamos estudá-lo dia e noite". Ele declarou ainda: "se quisermos receber algo de nosso Pai Celestial, deve ser conhecimento sobre esse importante assunto." (Ensinamentos, p. 316, itálicos adicionados)

Temos o direito, portanto, de compreender a verdadeira natureza de nossa existência, e também a responsabilidade de pesquisar profundamente esse assunto, pois quanto mais nos conscientizarmos de que o mundo espiritual e realmente uma extensão de nossa existência mortal, tanto menos deixaremos que nossos corações sejam influenciados pelas riquezas deste mundo.

Uma das mais bonitas histórias que conhecemos a esse respeito é uma experiência vivida pelo Presidente Heber J. Grant, a qual prova que um testemunho sobre o relacionamento correto que existe entre a vida, a morte e o mundo espiritual, pode confortar-nos nos momentos de tristeza, ajudar-nos a compreender quais são os propósitos de Deus, e nos ensinar qual é a verdadeira natureza de nossa existência. O Presidente Grant escreveu o seguinte:

"Fui abençoado com apenas dois filhos, um dos quais faleceu com cinco anos de idade, e o outro aos sete, de uma enfermidade localizada na bacia. Tinha muita esperança de que ele vivesse para pregar o Evangelho no país e no exterior e de que fosse motivo de orgulho para mim. Uma hora antes de ele morrer, sonhei que sua falecida mãe veio buscá-lo, trazendo consigo um mensageiro, e disse a ele que levasse o menino enquanto eu estava adormecido; e no sonho, pensei ter acordado e lutei para mantê-lo comigo, até que consegui livrá-lo das mãos do emissário que viera tirá-lo de mim, e nesse esforço, tropecei e caí sobre o lado ferido de meu filho.

"Os terríveis gritos de dor e angustia que a criança proferiu, levaram-me às raias da loucura." Não pude suportar, levantei-me e corri para fora da casa para não ver sua agonia. Sonhei ainda que, ao sair de casa, encontrei o irmão Joseph E. Taylor, e contei-lhe o que havia acontecido.

"Ele me disse: "Heber, você sabe o que eu faria se minha mulher viesse buscar um de seus filhos?" Não lutaria para conservar a criança comigo; não me oporia de modo alguma que ela o levasse. Quando uma mãe que viveu dignamente passa para o outro lado do véu, deve saber se seu filho terá que ser aleijado pelo resto da vida ou se seria melhor e mais sábio que tal criança fosse libertada da tortura da vida; e quando paramos para meditar, irmão Grant, que a mãe daquele rapaz passou pelas sombras da morte para lhe dar a vida, creio que é ela quem deveria ter o direito de levá-lo consigo ou deixá-lo a seu pai.

Eu disse à ele: "Creio que você tem razão, irmão Taylor. Se ela voltar novamente, deixarei que leve o menino, sem oferecer qualquer resistência."

"Após haver chegado àquela conclusão, fui despertado por meu irmão B. F. Grant, que permanecera conosco naquela semana, para ajudar-me a cuidar do menino enfermo. Ele me chamou para o aposento onde se encontrava e me disse que meu filho estava morrendo. Fui para o quarto da frente e sentei-me. Havia uma cadeira fazia entre mim e minha segunda esposa, que ainda vive, e senti a presença da falecia mãe do menino sentada naquela cadeira. Não contei a ninguém o que sentia, apenas me voltei para minha mulher e disse-lhe: "Você sente algo estranho?". Ela respondeu: "Sim, tenho certeza que a mãe do pequeno Heber está sentada entre nós, esperando para levá-lo embora."

"Sou um homem emotivo por natureza. Único filho de meus pais, fui criado com todo o afeto que uma mãe pode dedicar à um filho. Creio que sou afetivo e compassivo a ponto de chorar por meus amigos - de verter lágrimas de alegria pelos seus sucessos e de tristeza por seus infortúnios. Mas sentei ao lado do leito de morte de meu filhinho e o vi morrer, sem que eu derramasse uma só lágrima. Minha esposa viva, meu irmão e eu sentimos naquele momento uma influência doce, serena e celestial invadir nosso lar, a maior que tive a oportunidade de sentir em minha vida." (Improvement Era, junho de 1940, p. 330, 383.)

De acordo com a doutrina da Igreja, o mundo espiritual é o lugar onde habitam todos os que morrem e estão aguardando a ressurreição e a inseparável união de seus corpos com seus espíritos. Portanto, não é o lugar onde Deus, o Pai, o Senhor Ressuscitado e outros seres ressurretos habitam, mas sim uma condição ou estado intermediário, onde as pessoas esperam a ressurreição - uma esfera onde vivem os espíritos desencarnados em uma das diversas condições que herdaram segundo o que mereceram em sua vida mortal.

Falando a respeito dessas condições, Alma declarou a seu filho Coriânton que um anjo lhe fez saber que "todos os homens, logo que deixam este corpo mortal, sim, os espíritos de todos os homens, sejam eles bons ou maus, são levados para aquele Deus que lhes deu a vida." (Alma 40:11) Isso não quer dizer que serão levados à presença literal de Deus, ou ao planeta em que ele habita, (vide Joseph Fielding Smith, Answers to Gospel Questions, Deseret Book Company, 1958, 2:84-87), mas sim ao mundo espiritual. Alma acrescenta ainda: "E deverá suceder que os espíritos daqueles que são justos serão recebidos num estado de felicidade, que é chamado paraíso, um estado de descanso e paz onde terão descanso para todas as suas aflições, cuidados e dores." (Alma 40:12) Um pouco antes de morrer, Morôni anteviu a sua entrada nessa condição bendita no mundo espiritual, e escreveu: "Cedo descansarei no paraíso de Deus, até que meu espírito e corpo se reúnam de novo e eu seja carregado triunfante pelo ar, para encontrar-me convosco no agradável tribunal do grande Jeová, o Juiz Eterno, tanto de vivos como de mortos." (Morôni 10:34)

Contudo, nem todas as pessoas terão a oportunidade de descansar no paraíso. Alma esclareceu: "Os espíritos perversos, sim, aqueles que são maus, não terão parte no Espírito do Senhor - pois eis que preferiram praticar o mal e não o bem e, por conseguinte, o espírito do demônio entrou neles e tomou-os para si. Esses serão atirados na escuridão exterior; ali haverá pranto, lamentos e ranger de dentes; e isto em virtude de sua própria iniquidade, pois tornaram-se cativos da vontade do demônio." (Alma 40:13)

Assim como o paraíso não é a morada eterna dos justos, o inferno no mundo espiritual não é a habitação eterna dos iníquos. Relatando sua visão do mundo Telestial, o Profeta Joseph Smith escreveu: "Estes são os que não serão redimidos do diabo até a última ressurreição, até que o Senhor, mesmo Cristo, o Cordeiro, tenha consumado a sua obra." (D&C 76:85) E acrescentou ainda: "Estes são aqueles que ... são arremessados ao inferno e sofrem a ira de Deus Todo-Poderoso, até a plenitude dos tempos, quando Cristo tiver subjugado sob seus pés todos os seus inimigos, e tiver aperfeiçoado o seu trabalho." (D&C 76:106, vide também Apocalipse 20:13) O inferno no mundo espiritual terminará para todas as pessoas, quando elas tiverem ressuscitado. Elas são eventualmente libertadas dessa condição pelo sacrifício expiatório de Cristo. (Ver 2 Néfi 9:6-12) Os que "ainda permanecerem imundos" (os filhos de perdição), permanecerão no inferno, mas será um lugar separado do inferno do mundo espiritual. (Ver D&C 76:43-49) Depois que os filhos de perdição ressuscitarem, o mundo espiritual não terá habitantes. (Bruce R. McConkie, Mormon Doctrine, 2a ed. p. 762)

Pedro referiu-se ao mundo espiritual como uma "prisão", o que realmente é para algumas pessoas. (1 Pedro 3:18-20, 4:6) Entretanto, ele é principalmente um local de aprendizado e espera, e não um lugar de sofrimento. Nele são ensinadas as pessoas que não tiveram a oportunidade de receber o Evangelho nesta vida, e as que tiveram oportunidade parcial de recebê-lo e o rejeitaram. Em 1893, o Presidente Lorenzo Snow, quando presidia o Quorum dos Doze, declarou numa conferência geral a sua firma convicção de que, "quando o Evangelho é pregado aos espíritos em prisão, o sucesso da pregação é bem maior do que quando os élderes propagam sua mensagem nesta vida mortal. Creio que haverá bem poucos espíritos que não receberão alegremente o Evangelho, quando lhes for apresentado. As oportunidades serão milhares de vezes mais favoráveis." (Millenial Star, 56:50)

The Eternal Family through Christ, por Judith Mehr

Em resumo, o mundo espiritual é a morada temporária dos espíritos de toda a humanidade, sejam eles bons ou maus. Por isso, Joseph Smith declarou que "os justos e os iníquos vão todos para o mesmo mundo dos espíritos, até o tempo da ressurreição." (Ensinamentos, p. 302) Ainda assim, muitas pessoas ficam imaginando por que Jesus prometeu ao ladrão moribundo que, após a morte, ele estaria com o Salvador no paraíso. O Profeta ensinou: "Os tradutores da Bíblia segundo o Rei Tiago dizem paraíso. Mas o que é paraíso? É uma expressão moderna que não corresponde à palavra original que Jesus empregou. Procuremos o original da palavra paraíso. Seria tão fácil como encontrar uma agulha num palheiro. Aqui tendes a oportunidade para disputar, ó homens sábios. Nada há na palavra proveniente
do grego, da qual essa foi traduzida, que signifique "paraíso". O que se disse, foi: "Hoje estarás comigo no mundo dos espíritos: então, explicar-te-ei todas as coisas e responder-te-ei às tuas perguntas." E Pedro disse que Jesus foi e pregou no mundo dos espíritos (aos espíritos em prisão, 1 Pedro 3:19), a fim de que aqueles que aceitassem o Evangelho, pudessem ser atendidos vicariamente pelos que vivessem na terra,..." (Ensinamentos, p. 301) O Profeta declarou ainda que "tanto 'hades', do grego, como 'sheol', do hebraico, significam mundo dos espíritos. Hades, sheol, paraíso, espíritos em prisão, todos esses termos significam a mesma coisa: o mundo dos espíritos." (Ensinamentos, p. 302) Esse esclarecimento do Profeta Joseph Smith ajuda-nos a compreender melhor as palavras do Salvador.

As revelações modernas também nos ajudam a entender a natureza da existência no mundo espiritual. Uma coisa é certa, os espíritos são seres tangíveis. O Presidente Brigham Young declarou: "Os espíritos mostram-se tão familiarizados com os espíritos, como os corpos com os corpos, embora os primeiros sejam compostos de matéria tão refinada, que não podem ser tocados por nosso organismo grosseiro." (Discourses of Brigham Young, p.379, ver também D&C 131:7-8)

Quanto à localização do mundo espiritual, o Profeta Joseph Smith ensinou que ele está muito perto de nós. Num sermão proferido durante um funeral, declarou que os espíritos dos justos "são exaltados para realizar uma obra maior e mais gloriosa; por conseguinte, são abençoados, quando de sua partida para o mundo dos espíritos. Envoltos em chamas de fogo, não se encontram longe de nós." (Ensinamentos, p. 318)

Uma irmã que visitou o mundo espiritual e foi chamada de volta à mortalidade pelo Presidente Lorenzo Snow, viveu pessoalmente o que o Profeta ensinou: "Algumas pessoas perguntaram pelos seus amigos e parentes que ficaram na terra. Entre elas se encontrava meu primo. Ele perguntou como estavam seus parentes e ficou triste ao saber que alguns haviam começado a fumar, beber e fazer muitas coisas que lhes eram prejudiciais." (LeRoi C. Snow, "Raised From the Dead", história de Ella Jensen, Improvement Era, outubro de 1929, p. 974) De fato, nossos amados parentes falecidos estão grandemente preocupados com o nosso bem-estar e felicidade e podem ser designados, se necessário for, para nos trazer mensagens de advertência, censura e instrução. (Vide Joseph F. Smith, Doutrina do Evangelho, p. 400.)

O Presidente Young confirmou que o mundo espiritual é "aqui na terra. (Discourses of Brigham Young, p. 376) Numa recente conferência geral, o Presidente Ezra Taft Benson declarou que "o mundo espiritual não está longe de nós. Muitas vezes, o véu entre esta vida e a que existe além, torna-se bastante tênue. Nossos parentes falecidos não estão longe de nós." (Ensign, junho de 1971, p. 33) 

Aparentemente, o mundo espiritual está incorporado ao mundo físico. A terra possui um espírito, assim como nossos corpos possuem espíritos. O Élder Parley P. Pratt escreveu que o mundo espiritual "é aqui mesmo neste planeta em que nascemos; ou, em outras palavras, a terra e outros planetas desta esfera tem suas esferas interiores ou espirituais, assim como as exteriores ou temporais. Uma é habitada por pessoas possuidoras de um tabernáculo mortal, e a outra por espíritos. Foi colocada uma barreira entre as duas esferas, através da qual todos os objetos da esfera espiritual são invisíveis às pessoas que habitam na esfera temporal." (Key to Theology, 9a ed. Deseret Book, 1956, p. 126-27)

Aparentemente, as pessoas dignas que habitam o mundo espiritual, estão organizadas da mesma forma que as daqui, ou seja, em famílias e quóruns. O Sacerdócio funciona lá do mesmo modo que opera nesta vida. O Presidente Brigham Young declarou: "Quando os Élderes fiéis, que possuem esse Sacerdócio, passam para o mundo espiritual, levam consigo o mesmo poder e Sacerdócio que possuíam, quando estavam no tabernáculo mortal." (Discourses of Brigham Young, p. 132, ver também D&C 124:130) Desse modo, as bênçãos do Sacerdócio também estão presentes no mundo espiritual. Um Élder que passou para além do véu e voltou, esclareceu o seguinte a respeito da ordem lá observada:

"Enquanto eu me encontrava no mundo espiritual, vi que as pessoas estavam muito atarefadas e perfeitamente organizadas para o trabalho que realizavam, o qual me pareceu ser a continuidade daquele que executamos aqui - semelhante ao que fazemos indo de uma estaca para outra.
Nada havia lá que me parecesse particularmente estranho, tudo se mostrava muito natural." (Peter E. Johnson, Relief Society Magazine, agosto de 1920, p. 455) Ella Jensen teve uma experiência semelhante, ao visitar o mundo espiritual.

O Élder Rudger Clawson, antigo membro do Conselho dos Doze, falando a respeito dela, relatou que "um guia veio recebê-la, o qual a levou para um grande edifício onde estavam reunidas inúmeras pessoas, todas as quais pareciam estar muito atarefadas. Não havia o menor sinal de indolência. (LeRoi C. Snow, Improvement Era, outubro de 1929, p. 977) É possível, entretanto, que nem todos os habitantes do mundo espiritual estejam assim organizados, considerando que nem todos receberam as ordenanças necessárias à exaltação.

O Presidente George Albert Smith, após haver passado por uma experiência no mundo espiritual, descreveu parte do mundo que viu: "Certo dia ... fiquei inconsciente e senti que havia passado para o outro lado. Encontrei-me em pé, de costas para um grande e bonito lago, olhando para um enorme bosque. Não havia ninguém à vista, nem algum barco no lago ou qualquer outro meio visível que indicasse como eu havia chegado lá. Imaginei, ou pensei, que havia terminado o meu trabalho na vida mortal e tinha voltado para casa. Comecei a olhar a meu redor, para ver se podia encontrar alguém naquele lugar. Havia apenas aquele enorme bosque à minha frente, e o grande lago atrás de mim.

"Comecei a explorar o local e encontrei um caminho no bosque, que parecia ter sido muito pouco usado e estava quase encoberto pela grama." O Presidente Smith seguiu a trilha, e depois de algum tempo, encontrou seu pai, com quem teve a oportunidade de conversar. (Improvement Era, março de 1947, p. 139)

Aparentemente, não há infantes ou crianças no mundo espiritual. Todos os seus habitantes são da estatura de homens e mulheres adultos, a mesma aparência que possuíam antes de seu nascimento na vida mortal. Quando os infantes ou crianças morrem, seus espíritos imediatamente reassumem a antiga estatura adulta que possuíam na pré existência. Contudo, ao receberem de novo seu corpo na ressurreição, eles vem naturalmente como crianças, para serem criados até alcançarem a maturidade por seus pais dignos e justos. O Presidente Joseph F. Smith explicou esse conceito da seguinte maneira:

"Os espíritos dos nossos filhos são imortais antes que venham a nós, e os seus espíritos, depois de deixarem o tabernáculo mortal, são como foram antes de virem. São como teriam aparecido, se tivessem vivido na carne para crescer para a maturidade ou para desenvolver os seus corpos físicos à completa estatura dos seus espíritos. Se vocês virem um de seus filhos que já morreu, ele talvez lhes apareça na forma em que seria facilmente reconhecido, ou seja, na forma da infância; porém, se viesse como mensageiro, trazendo alguma verdade importante, talvez viesse como o espírito do filho do Bispo Edward Hunter (que morreu quando criança) veio a ele, na estatura de um homem plenamente desenvolvido e revelou-se ao pai, dizendo: "Eu sou o seu filho". 

"O Bispo Hunter não compreendeu o que estava acontecendo. Ele foi ao meu pai e perguntou: "Hyrum, o que significa isso? Sepultei meu filho, quando era ainda uma criancinha, e agora ele veio a mim como um homem plenamente desenvolvido - um jovem nobre e glorioso e declarou-se meu filho. O que significa isso?"

Meu pai (Hyrum Smith, o Patriarca) disse-lhe que o espírito de Jesus Cristo era adulto antes que nascesse no mundo; e do mesmo modo as nossas crianças são adultas, e possuem a sua completa estatura no espírito, antes que entrem na mortalidade, a mesma estatura que possuirão depois da morte na mortalidade, e como também aparecerão depois da ressurreição, quando terão completado a sua obra." (Doutrina do Evangelho, p. 416-417)

Algumas pessoas se preocupam, porque seus filhos aparentemente perderam o privilégio de passar pelas oportunidades de namoro e casamento. No entanto, as revelações concernentes ao mundo espiritual nos asseguram que o relacionamento normal que leva aos selamentos eternos continua a existir naquela vida. O Élder Melvin J. Ballard observou: "Vós, mães, vos preocupais com vossos filhinhos (que morreram). Não realizamos selamentos matrimoniais em benefício deles. Perdi um filho de seis anos de idade e o vi com a estatura adulta no mundo espiritual depois que morreu, e observei como pode exercer seu livre arbítrio e que obteria por sua própria vontade uma companheira, e no devido tempo, ele e todos os que eram dignos, receberiam todas as bênçãos e privilégios de selamento da casa do Senhor. Não vos preocupeis com eles, pois estão bem."

"Portanto, qual é o estado de vossas filhas que morreram sem haverem sido seladas a algum homem? ... O poder de selamento existirá para sempre na Igreja, e elas terão a devida oportunidade. Não podemos andar mais depressa do que o Senhor nos prepara os caminhos. Elas receberão suas bênçãos e privilégios no devido tempo. Por enquanto, estão bem." (Bryant S. Hinckley, Sermons and Missionary Services of Melvin J. Ballard, Deseret Book Company, 1949, p. 260)

Quando Joseph Smith teve a Visão do Reino Celestial, ele viu que "todas as crianças que morreram antes de chegar à idade da responsabilidade, são salvas no reino celestial." (V. 10) Além disso, o Presidente Joseph F. Smith explicou o seguinte:

"Joseph Smith ensinou a doutrina de que, aquele que morre quando criança, virá na ressurreição como criança; e, apontando para a mãe de uma criança sem vida, disse-lhe que ela teria a alegria, o prazer e satisfação de educar essa criança, depois da sua ressurreição até que alcançasse a completa estatura do espírito. Existe restituição, existe crescimento, existe desenvolvimento depois da ressurreição da morte. Eu amo esta verdade. Ela traz felicidade, alegria e gratidão à minha alma. Agradeço ao Senhor por nos ter revelado esses princípios." (Doutrina do Evangelho, p. 417, vide também Ensinamentos, pp. 192-193, 195, 358-360) Portanto, devemos entender pelas palavras de Joseph Smith que "a única diferença entre a morte de um jovem e a de um ancião, é que um vive mais tempo no céu e na eterna luz e glória que o outro, e é liberto deste miserável mundo iníquo um pouco mais cedo. Não obstante, perdemos de vista toda essa glória por um momento e lamentamos a perda do que se foi, mas não choramos como os que se acham sem esperança." (Ensinamentos, p. 193)

Isso não quer dizer que as pessoas devem estar ansiosas para deixar a mortalidade, mas sugere que os pais que perderam seus filhos, podem ser confortados pelas verdades do Evangelho. De fato, devemos empenhar-nos zelosamente em completar com êxito a missão que nos foi confiada na vida. Por exemplo, depois que Phoebe, a jovem esposa de Wilford Woodruff morreu, ele foi inspirado a administrá-la e reprovar o poder da morte. Ele escreveu o seguinte a respeito desse incidente: 

“Seu espírito voltou para o corpo, e no mesmo instante, ficou curada; e louvamos o nome de Deus e nos propusemos a confiar Nele e guardar os seu mandamentos”

Quando ocorreu este incidente (minha esposa posteriormente relatou), seu espírito abandonou seu corpo e ela o viu deitado sobre a cama, tendo as irmãs chorando a seu redor. Ela olhou para elas, para mim e seu filhinho, e, enquanto observava aquela cena, dois personagens entraram no quarto ... Um desses mensageiros informou que ela teria a liberdade de escolher: poderia ir descansar no mundo espiritual, ou, sob uma determinada condição, ter o privilégio de voltar para o tabernáculo e continuar seus trabalhos sobre a terra, desde que achasse que poderia ficar ao lado de seu marido e com ele suportar até o fim todos os cuidados, provações, sofrimentos e aflições da vida que ele teria de sofrer por amor ao Evangelho. Ao ver a situação em que se encontravam seu marido e eu filho, ela disse: "Sim, eu suportarei!"

"No momento em que ela tomou aquela decisão, o poder da fé caiu sobre mim, e quando lhe administrei, seu espírito voltou novamente para o seu tabernáculo ..." (Leaves From My Journal, 4a ed. The Deseret News, 1909, p. 59-60)

O ponto de vista que os santos dos últimos dias tem a respeito do mundo espiritual, revela que lá também é feito trabalho missionário. É nele que está centralizado o programa missionário maior e mais significativo que a mente pode conceber. O Presidente Brigham Young declarou: "Comparem os habitantes da terra que há tiveram a oportunidade de ouvir o Evangelho em nossos dias com os milhões de pessoas que jamais receberam o privilégio de ouvi-lo ou de lhes serem apresentadas as chaves da salvação, e imediatamente concluirão, como eu, que existe um trabalho poderoso a ser feito no mundo espiritual." (JD, 4:285) Como deve ser realizado esse grande trabalho? Alguns vislumbres sublimes a respeito desse assunto foram revelados na Visão da Redenção dos Mortos, do Profeta Joseph F. Smith. (Ver especialmente os versículos 29-37).

Quem aceitará a mensagem desse divino ministério?

Joseph Smith, na Visão do Reino Celestial, nos dá a resposta. Maravilhando-se como seu falecido irmão Alvin poderia ter o direito de herdar o reino celestial, já que havia morrido antes da restauração do Evangelho, o Profeta ouviu a voz do Senhor dizer: "Todos os que morrem sem um conhecimento deste Evangelho, que o teriam recebido se lhes fosse permitido permanecer na terra, serão herdeiros do reino celestial de Deus; "Também todos aqueles que, deste dia em diante, morrerem sem ter tomado esse conhecimento, mas que o teriam recebido de todo o seu coração, serão herdeiros desse reino; "Pois Eu, o Senhor, julgarei a todos os homens segundo suas obras, segundo os desejos de seus corações." (versículos: 7-9).

Mesmo assim, esse ministério no mundo espiritual não é suficiente para que nossos amados mortos alcancem a salvação final. Por quê? Porque, para salvar um homem morto, é necessário o mesmo que é requerido de um vivo. Joseph Smith declarou que "não se pode alterar nem mudar as ordenanças que foram instituídas nos céus antes da fundação do mundo, no sacerdócio, para redimir os homens. Todos têm de ser salvos pelos mesmos princípios." (Ensinamentos, p. 300) Ele declarou ainda que, "se um homem recebe a plenitude do evangelho, deve obtê-la da mesma forma que Jesus Cristo a alcançou, isto é: guardando todos os mandamentos e obedecendo a todas as ordenanças da casa do Senhor." (Ensinamentos, p. 300) Isso não exclui os homens e mulheres falecidos. Podemos apenas fazer as ordenanças vicárias a seu favor. Eles precisam crer, arrepender-se e obedecer ao Evangelho por si mesmos.

Em resumo, o mundo espiritual é o lugar para onde vão os espíritos desencarnados. É uma esfera tangível e substancial que está incorporada à nossa terra. Ele é o ponto focal de um esforço missionário maciço, do qual participamos. É um mundo que está mais perto do que podemos imaginar, unido a nós pelas linhas familiares de inúmeros parentes amados.