14/10/2016

A Luta pela alma

Elder Melvin J. Ballard

Proferido no Tarbernáculo da Cidade do Lago Salgado, em 5 de Maio de 1928.
1940 - 110° Conferência Geral da Igreja


Três semanas antes desta tarde, durante a sessão geral da conferência, tive o privilégio de chamar a atenção para alguns pontos de interesse dos santos dos últimos dias e do mundo, baseado no inspirado profeta da América, Néfi, que seiscentos anos antes do nascimento de Cristo deixou uma mensagem para esta geração. Desejo continuar, com a vossa permissão, no espírito dessas instruções e para tanto lerei alguns parágrafos de 2 Néfi 28: “E muitos dirão: Comei, bebei e diverti-vos, porque amanhã morreremos; e tudo nos irá bem”.

“E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não obstante, temei a Deus - ele justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos das palavras de alguns, abri uma cova ao vosso vizinho; não haverá mal nisso. Fazei todas estas coisas porque amanhã morreremos; e, se acontecer estarmos culpados, Deus nos castigará com uns poucos açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus”. (2 Néfi 28:7-8).

Leio começando no versículo 19: “Porque o reino do diabo deve ser sacudido, e os que a ele pertencem devem ser aconselhados a se arrependerem, ou ele os agarrará com suas eternas correntes, e serão movidos à cólera e perecerão”.

“Pois que, nesse dia, ele assolará os corações dos filhos dos homens e os excitará a se encolerizarem contra o que é bom”.

“E a outros pacificará, e os adormecerá em segurança carnal, de modo que dirão: Tudo vai bem em Sião: sim, Sião prospera, tudo vai bem. Assim o diabo engana suas almas e os conduz cuidadosamente ao inferno”.

“E a outros ele lisonjeia, dizendo que não há inferno; e diz-lhes: Eu não sou o diabo; ele não existe; e isso ele lhes sussurra aos ouvidos, até os agarrar com suas terríveis correntes, das quais não há libertação”.(2 Néfi 28:19-22).

Há dois anos, eu estava trabalhando com os élderes Wells e Pratt na América do Sul, abrindo uma missão para a Igreja. Durante esse período tive oportunidade de refletir e estudar. Diz-se que “a distância traz encantamento à vista” e, acredito, que às vezes também um entendimento mais claro. Eu me encontrava a dezoito mil quilômetros dos escritórios centrais da Igreja, distância suficiente para ver as coisas como elas realmente são. Havia-me afastado do mundo que conhecia e entrado num mundo novo e diferente. A língua era diferente; os costumes do povo, os céus, a terra – tudo parecia estranho e diferente – de forma que eu era como alguém que deixou a terra e tinha muitos dos pensamentos e reflexões que com certeza terei quando esse momento realmente chegar para mim. Tive oportunidade de ler muito, não apenas estudando o idioma espanhol, mas também li tudo que pude obter em minha própria língua, inclusive a Bíblia, o Livro de Mórmon, Doutrina e Convênios e os seis volumes da história da nossa Igreja. Enquanto meditava a respeito do progresso da Igreja, da sua posição atual e do futuro que a espera, vieram-me distintamente algumas impressões a respeito de um período cheio de perigos para muitos e, sentindo um forte desejo pelo bem-estar dos membros da Igreja e também por todos os meus semelhantes, prometi ao Senhor que, se me desse sabedoria e força, eu levantaria a voz de advertência aos filhos dos homens com relação ao perigo que os ameaçava.

Vejo as evidências de que esse período de perigo se aproxima. Deveria vir num tempo de paz e prosperidade – a propósito, o mais perigoso período que qualquer povo pode atravessar. Muitos homens permanecem firmes e fiéis a seus princípios nos momentos de dificuldade, mas quando chega sua hora de independência, quando vem à prosperidade, como é fácil esquecer os padrões elevados e sentir o poder que a prosperidade e o sucesso trazem, atender aos nossos desejos e apetites. Assim acontece com as nações. Tenho sentido profundamente que o mundo todo se está aproximando de um período de autoindulgência, em que surgirá uma nova ordem das coisas, e vir muito claramente que a própria Igreja seria afetada por esse novo período pelo qual deveríamos passar. Posso, no entanto ver claramente que não é, de maneira alguma, com as forças dos homens que devemos contar, mas que há poderes influenciando os corações humanos, levando-os à solução desses problemas que surgem diante de nós.

Quando os primeiros filhos fiéis do Pai estavam prestes a vir para a vida terrena, sem dúvida foram advertidos e admoestados, pois estávamos para ter duas novas experiências. Primeiro, entrar na posse de um corpo mortal. Sem nunca ter tido um corpo mortal, era totalmente estranho. Fomos exortados a que deveríamos tomar posse desse corpo mortal e torná-lo nosso servo, e que deveríamos dominá-lo, honrá-lo, mas ainda assim controlá-lo.

(Segundo), estaríamos em presença do inimigo, que agora teria maioria. Se nossos olhos fossem abertos apenas para ver os poderes que estão a nossa volta, procurando influenciar-nos, não teríamos a coragem de caminhar sozinhos e sem ajuda. Esses poderes estão a nossa volta, usando sua influência para a realização de certos fins bem definidos, para conquistar o ambicioso lugar para seu chefe, o filho decaído de Deus. Quando ele caiu, os céus choraram por ele, e ele tornou-se Lúcifer, o demônio.

Seu propósito transparece claramente em seus próprios atos Tomemos, por exemplo, a tentação do Mestre. Embora ninguém mais soubesse para onde ele havia ido, após o batismo, esse irmão invejoso e cobiçoso sabia e o encontrou no momento de sua fraqueza física, e o tentou. A grande questão, no entanto envolvida nessa tentação, não era tanto tornar as pedras em pães, nem jogar-se do pináculo do templo – isso era apenas um prelúdio para a grande questão em jogo. Lá passaram pela mente de Jesus Cristo, como num panorama, os reinos do mundo, e o tentador lhos ofereceu. Ele sabia que era em parte para ganhar o direito de governá-los que Jesus Cristo viera ao mundo, e que ele havia proposto morrer, dar a vida para obter o direito de ser o Rei dos reis e o Senhor dos senhores.

Mas o tentador ofereceu a Jesus todas essas honras e privilégios de maneira fácil, apenas prostrar-se e adorar o maligno. E, disse-lhe: “Tudo isto te darei. Não há necessidade de morrer no Calvário; apenas adora-me. Eles são meus e depois serão teus “. Se houve alguma vez um momento em meio à tentação em que Jesus não sabia que lhe estava preparando armadilhas, agora todas as dúvidas se dissiparam, pois ele disse: ”Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás”.(Mateus 4:10) E Satanás o deixou.

É verdade que aquele que ofereceu os reinos deste mundo os estava governando, pelo menos temporariamente, mas seu título não era válido. Tivesse Jesus Cristo aceitado esse título, teria sido enganado e por fim descobriria que o título de nada valia. Assim, para ganhar o legítimo direito e título para governar os reinos deste mundo, o Mestre deu a vida. Mas a questão não estava encerrada, porque ainda é propósito daquele que foi rejeitado e que dói derrotado no início e cujos planos foram malogrados pelo Senhor Jesus Cristo enquanto estava em seu ministério, obter o direito de governar os reinos deste mundo, e isso é o que ele quer fazer aqui.

Assim, na primavera de 1820, havendo chegado a hora, conhecida pelos antigos profetas, em que o anjo viria voando pelo meio do céu, trazendo o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, quando se aproximava o momento em que Elias deveria voltar a terra antes do grande e terrível dia do Senhor, quando a mensagem profética contida no sonho de Nabucodonosor, interpretado por Daniel, seria gloriosamente consumada com o estabelecimento do reino que nunca mais seria destruído, nem entregue a outro povo – quando o momento chegou, ele não era conhecido só por Deus nos céus, mas também pelos poderes que governam a terra. Assim, antes de o Senhor manifestar-se, o demônio estava presente e apoderou-se do jovem que deveria ser o instrumento para o cumprimento daquelas promessas, e procurou destruí-lo.

Não era uma destruição imaginária que parecia estar preste a acontecer, mas um poder real tangível, que se apoderou dele; pois Satanás esperava restringir a obra de Deus, adiar o dia que seria sua ruína, através da morte do mensageiro que Deus enviara ao mundo e que estava preste a ser visitado em conexão com o início de uma dispensação do evangelho, exatamente a última – uma obra que rolaria avante até encher toda terra. Era o começo do fim. Não é de admirar que os poderes do mal procurassem impedir o seu progresso, seu crescimento e desenvolvimento.

Deus, porém, também sabia que era chegada a hora. Ele e seu filho, Jesus Cristo visitaram esse rapaz e iniciaram esta grande dispensação do evangelho que tem por suprema finalidade a conquista do mundo para Cristo e seu estabelecimento como governador da terra, como Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Assim, o processo de conflito sempre existiu na Igreja, desde o dia das primeiras lutas do Profeta. Lutamos para prosseguir em nosso caminho sob toda espécie de circunstâncias adversas. Percebendo que não lhe foi possível destruir tudo com os meios que empregou para impedir a obra – pela violência da plebe, assassinatos, perseguições, imposições e prisões, tirando os direitos dos cidadãos, com muitas desgraças e problemas – Satanás está querendo empregar novos métodos. Esse é o ponto que desejo ressaltar, porque vi muito claramente que o inimigo não está satisfeito, nem abandonou o campo de batalha, mas, com métodos novos, procura destruir esta obra. Pois quero dizer-vos que ele é suficientemente vaidoso para pensar, e acreditar sinceramente que no final será vitorioso e o rei deste mundo.

Os profetas antigos previram o tempo em que essa questão seria decidida. Alguns deles chamaram o conflito de Armagedon. Seja qual for o nome, está chegando o tempo em que a questão referente a quem tem o direito de governar e reinar será decidida. Todo homem justo, vivo ou morto, terá interesse e participação nesse conflito, assim como também todo homem iníquo, vivo ou morto.

Qual será o fim da questão? Quão logo será eu não sei, mas de uma coisa eu sei: As evidências do futuro conflito estão-se acelerando e ele virá; e os dias estão sendo empregados na preparação para ele com tal empenho de ambos os lados que ficaríamos surpresos se soubéssemos que seremos o centro de grande interesse no universo, porque nos estamos aproximando de dias grandes, importantes e críticos na história do mundo.

Forças poderosas estão sendo organizadas de um lado e do outro para esse conflito que se avizinha e que resolverá a questão de quem reinará e governará. Nesse meio-tempo – e falo do demônio como uma personalidade, uma realidade – ainda existem os que negam sua existência, exatamente como Néfi disse que o demônio inspiraria as pessoas a dizerem: “Não existe nenhum demônio”; e lê lhes sussurraria: “Eu não sou o diabo”. No que se refere aos santos dos últimos dias, nunca achamos que o diabo fosse uma monstruosidade, que tivesse chifres e rabo e cascos fendidos. Não senhor, ele tem aparência de um cavalheiro e se o vísseis, voltar-vos-íeis para olhá-lo. Ele é uma realidade. Estou tão certo de que tem uma personalidade, estou tão certo de que vive, como estou certo de que Deus vive. Embora procure enganar os homens e persuadi-los a crer que não existe, de fato ele existe, e nunca esteve tão ativo como hoje. Enquanto isso, qual é o seu trabalho hoje? Declaro-vos que ele tem seus postos de recrutamento em todas as partes do mundo e que eles estão armados. Ele tem soldados, e são muitos. Ele anda aliciando homens e mulheres em suas fileiras, preparando-se para o grande conflito na vã esperança de que quando a luta ocorrer, ele terá a maioria e por isso vencerá.

Não estou preparado para dizer quem estará do lado dele nem quantos serão, mas tenho tanta certeza como tenho de estar vivo, por inspiração do Todo-Poderoso, que o fim do conflito é tão certo como o resultado no início. Que ele caiu no início e foi banido dos céus é um fato; e também é verdade que, não importa quantos tomem seu partido, nem quão cruel seja o conflito, ele será derrotado e banido da terra e expulso de seu próprio domínio. Cristo virá reclamar o que é seu para governar e reinar.

Até lá, contudo, não é o resultado do conflito que me preocupa, mas antes se estarei do lado dele ou do Senhor. Sem dúvida é bom momento para todo homem e mulher examinar-se a si mesmo e descobrir se está do lado do Senhor ou não. Gostaria de dizer-vos, irmãos e irmãs, que todas as tentativas do inimigo de nossas almas para nos capturar serão feitas através da carne, porque ela é feita com os elementos da terra em seu estado perfeito, e ele tem poder sobre os elementos da terra. Suas investidas serão através da luxúria, dos apetites, das ambições da carne. Toda a ajuda do Senhor em nosso socorro nessa luta virá através do espírito que habita nosso corpo mortal. Assim, essas duas forças poderosas operam em nós através desses dois canais.

Como a batalha se desenrola em vós? Como se está desenrolando nos homens e mulheres do mundo? Esta é uma pergunta importante. O maior conflito que qualquer homem ou mulher terá de enfrentar (não importa quão numerosos sejam seus inimigos), será a batalha que trava com o próprio eu.

Gostaria de falar do espírito e corpo como “eu” e “ele”. “Eu” é o indivíduo que habita nesse corpo, que vivia antes de eu ter este corpo, e que viverá quando eu o deixar. “Ele” é a casa em que moro, o tabernáculo de carne; e o grande conflito é entre “eu” e “ele”.

Eu costumava dizer aos missionários, com quem convivi por muitos anos, que é uma coisa excelente nos isolarmos uma vez por semana para nos examinarmos, descobrirmos como está indo a batalha, quem está ganhando – “eu” ou “ele”, fazermos um julgamento de nós mesmos, corrigirmos nossos erros e fraquezas, pormos em ordem nossa própria casa. Vós não tendes que estabelecer um dia para isso. O Senhor o fez, para todos os membros da Igreja. Esse dia é o dia do Senhor. É na reunião sacramental, quando vedes os emblemas do corpo ferido e do sangue derramado sendo preparados – esse é o momento para todos os homens e mulheres fazerem uma conferência secreta dentro de si mesmos e descobrir se caíram em pecado e transgressão ou não, se cederam ao tentador se há coisas das quais precisam arrepender-se para purificarem sua alma, e fazerem as pazes com os irmãos e irmãs e com o Senhor para que não estendamos a mão e comamos e bebamos indignamente desses emblemas sagrados.

Um outro período que o Senhor designou para os membros desta Igreja verificarem quem está vencendo a luta, “eu” ou “ele”, é o primeiro domingo, quando devemos abster-nos de comer e beber por duas refeições. Quando esse período se aproxima, “ele”, a casa em que vivo, queixa-se de que não será possível abster-se de alimento: “Minha cabeça doerá; meus joelhos tremerão; sentirei vertigens; não posso jejuar por tanto tempo; preciso comer um pouco”. Estais cedendo a esses sentimentos? Se estiverdes, posso dizer-vos quem está ganhando a batalha. É uma coisa esplêndida que ““eu” e “ele” realmente se enfrentem, pelo menos uma vez por mês, e que “eu”, o corpo em que vivo, meu servo: “Você pode passar sem essas duas refeições; não vai prejudica-lo. Na realidade, vai beneficia-lo. E embora minha cabeça possa doer e meu corpo sentir vertigens, não vou morrer. Sou mais forte que você, e uma vez por mês vou mostrar-lhe que eu sou seu Senhor. “Que força isto vos dará para resistir no dia de amanhã, quando surgir algum outro desejo! Talvez seja o desejo de bebida alcoólica de tabaco ou qualquer outro apetite da carne – e eu encontrarei forças para dizer ao corpo em que vivo: “Você não pode profanar este tabernáculo: eu o quero limpo não deixarei que este corpo seja profanado; ele é meu servo e tem que ser mantido puro”.”“.

Vós, porém, nunca podeis dizer como anda a batalha se não estiverdes cuidando muito bem do espírito. Sabemos que se não nos alimentamos e exercitamos devidamente, fisicamente falando, não haverá crescimento. Se desejas ter um espírito forte capaz de dominar o corpo deveis cuidar que vosso espírito receba alimento espiritual e faça exercícios espirituais.

Onde obtemos o alimento espiritual? Acabei de mencionar que uma vez por semana os membros da Igreja são convidados a participar da mesa do sacramento, onde comem e bebem os emblemas do corpo ferido e do sangue derramado pelo Senhor Jesus Cristo, abençoado para o espírito deles – não para seu corpo físico, pois aquele que come e bebe dignamente, come e bebe vida espiritual. Também devemos buscar o Senhor diariamente em oração, oração secreta e oração familiar.O que acontece então? Fechamos os olhos e excluímos o mundo físico, abrimos as janelas de nossa alma invocando sobre nós bênçãos espirituais, poderes espirituais. E essa força flui para nossa vida espiritual. Dessa forma, essas e outras oportunidades de alimento espiritual são nos oferecidas e o exercício espiritual vem através do serviço em favor de nossos semelhantes.

O homem ou mulher que não está recebendo alimento espiritual nem fazendo exercícios espirituais em pouco tempo tornar-se-á espiritualmente fraco e a carne será o senhor. Por isso, todo aquele que se utiliza tanto de alimento como de exercícios espirituais, terá domínio sobre seu corpo e mantê-lo-á sujeito à vontade de Deus.

Eu disse que o ataque do maligno para nos capturar se dará através do corpo. Essa é a linha de contato. Há um provérbio que diz que nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco. Ela se partirá no ponto fraco. Em geral, nosso elo mais fraco está na carne. O diabo conhece o elo fraco, e quando ele se propõe a capturar uma alma, acata-a no seu ponto fraco. Pode haver força em algum outro lugar, mas ele nunca ataca onde somos fortes. Ele ataca onde somos fracos.

Certa ocasião, percorrendo a grande floresta do Oregon, vi uma árvore gigantesca caída sem razão aparente, enquanto todas as suas companheiras continuavam de pé. Observando mais de perto, percebi que o problema se vinha desenvolvendo imperceptível debaixo da casca. Um inseto fizera um furo não maior que um alfinete, mas que seccionara o tronco inteiro do gigante, criando um ponto fraco. E bastou uma pequena pressão para o gigante cair expondo sua fraqueza. Fui inspirado a dizer quanto isto se assemelha à vida humana. Há muitos homens e mulheres que parecem absolutamente honestos, que exteriormente parecem fortes, mas que estão tolerando ser a ruína, deixando uma porta aberta para o ataque do inimigo.Quando Goethe escreveu Fausto,creio que foi inspirado a dizer algumas verdades a respeito do método de ataque do inimigo de nossas almas. Lembrai-vos de que o homem Fausto, já com bastante idade, desejava avidamente recuperar a juventude, e orou pedindo essa transformação. Mas o que ele pedia era ilícito e o Senhor não lhe deu qualquer resposta. Mas ele persistiu em suas orações, e quando persistimos, sem o desejo de dizer: “Não seja como eu quero, mas como tu queres,” é possível que o demônio nos responda, como fez com Fausto. E então o diabo disse: ‘Farei isto por você. Fá-lo-ei jovem, e quando você voltar a ser jovem, vai querer uma moça’. E a visão da bela Margarida foi-lhe mostrada. ‘Mas se eu assim fizer isso por você, quero que assine um contrato estabelecendo que, quando acabar com esse corpo, seu espírito me pertencerá’.

Não são corpos, mas espíritos imortais que o demônio quer. E ele deseja capturá-los através do corpo, pois o corpo pode escravizar o espírito, mas o espírito pode fazer o corpo seu servo e ser seu mestre.

E assim o contrato foi feito. Então, transformado em jovem, Fausto se lembra da promessa da virgem, e ambos vão procurá-la. Encontram-na entrando na igreja. Fausto corre para tomá-la, mas o demônio o detêm e diz: ‘Não tão depressa, não dessa forma’. Eis uma verdade. O demônio não consegue capturar nenhum homem ou mulher dessa forma. Ele não pode arrebatá-lo e fazê-lo seu escravo contra sua vontade. A todo homem e mulher que vive é dado o poder de dizer como Cristo disse: “Vai-te satanás”, e ele afastar-se-á de vós tão rapidamente quanto se afastou do Mestre. Ele não pode capturar uma única alma sem que ela esteja disposta a ceder. Ele é limitado. Tem que cativar homens e mulheres.

Assim foi com Margarida. Ele precisa cativá-la. Eles a estudam e descobrem sua fraqueza. Ela é uma jovem casta, virtuosa, maravilhosa, e no entanto tem uma fraqueza. É a vaidade. Assim, eles aproveitam esse ponto fraco. Jóias são colocadas no jardim, e com elas o espelho. Ela descobre essas coisas. A vaidade a incita a colocar as jóias e sugere que se olhe no espelho para ver como é bonita. No momento psicológico, o tentador aparece e oferece as jóias como um presente de seu futuro amado. Ela é levada a aceitá-las.

Os amantes passam a tarde juntos, e ouve-se a voz da mãe chamando margarida para que deixe o jardim e entre, mas ela não quer deixar o amante que acabara de encontrar. Novamente no momento psicológico adequado, aparece o tentador, o demônio, colocando uma pílula nas mãos de Fausto garantindo que, se for colocada no que a mãe beber à noite, ela logo adormecerá e os amantes não serão perturbados. Ouvindo os tristes casos de mais de uma garota que escapou da influência da mãe e só colheu tristeza e dor, pergunto-me por que a advertência não é suficiente para dar a cada garota a certeza de que o lugar mais seguro no momento para ela é junto de sua mãe.

A mãe toma a porção e vai dormir. Os amantes passam a noite juntos. A manhã traz à cena o irmão Valentino, que encontra a mãe morta – pois aquele era o sono da morte – e um estranho na casa com sua irmã Margarida. Segue-se discussão, trava-se um duelo no qual Valentino, o irmão, é morto. Agora Margarida se dá conta de sua situação e as consequências de seus atos. Ela matou a mãe, provocou a morte do irmão, e – pior que a própria morte – perdeu a virtude. Ela é vista em seguida chorando e arrancando os cabelos, e o demônio entra em cena rindo. Capturou outra alma. Tão forte como era, tinha uma fraqueza, e através desta o inimigo a venceu.

É esse processo pelo qual as secretas fraquezas e vícios deixam uma porta aberta para que o inimigo de vossa alma entre; e ele pode entrar e tomar posse de vós, e sereis seus escravos.

Depois que tiver entrado, ele embala suas vítimas num senso de segurança, sussurrando-lhes que podem mentir um pouco, roubar um pouco, cometer algum pecadinho e que serão castigados com uns poucos açoites e depois tudo irá bem.

É um dos métodos do demônio manter a porta aberta para que possa entrar. Declaro-vos que esse é o processo pelo qual ele está procurando capturar almas hoje. Embora não haja nenhum inimigo mortal ou movimento organizado contra esta Igreja, o inimigo de nossas almas está alerta e atento. Ele tenta corromper homens e mulheres com novos métodos. Não há um só homem ou mulher vivente que não será posto à prova, cuja posição não será atacada, e se Satanás puder encontrar uma entrada, tentará capturar aquela alma.

É o tempo das provações individuais que vejo aproximar-se, e por esse motivo é bom conhecer as forças e os poderes que se organizam contra nós, para que possamos cerrar fileiras e nos fortificar. Estando avisados, acautelemo-nos e armemo-nos e declaro-vos que todos os princípios do evangelho que a Igreja recebeu se destinam especificamente a nos fortalecer e armar contra os assaltos de inimigos de nossa alma. O homem ou a mulher que consegue guardar a Palavra de Sabedoria, por exemplo, também terá forças para manter-se limpo, incólume aos pecados desta geração.

O método preferido do inimigo de nossas almas, usado em tempos passados e que será usado hoje é capturar almas, conduzindo-as gentilmente, passo a passo, em direção ao maior e mais destrutivo pecado contra a vida espiritual – a imoralidade, o supremo fim da autoindulgência. Nenhuma nação sobreviveu nem sobreviverá à era da imoralidade. O tentador está hoje induzindo os homens a serem cegos ao pecado, e até mesmo ocupantes de altos postos são levados a rejeitar a força e o poder e o vigor dos dez Mandamentos, e a encarar a associação ilícita e imprópria dos sexos como algo não pecaminoso. Declaro-vos que é um pecado mortal contra a espiritualidade, e é um pecado mortal contra a vida dos homens e nações. Alguém poderá dizer: “Bem, posso ter meus pecados e fraquezas, mas dentro em pouco vou superá-los, quando tiver uma certa idade”. Comerei e beberei hoje e adiarei até amanhã, mas sempre posso arrepender-me antes de morrer.

Gostaria de dizer-vos que não há outra época, e jamais haverá, em que homens e mulheres possam conquistar, dominar e vencer a carne e o diabo, como agora na mortalidade. Dir-vos-ei também que a melhor época é na juventude. Falamos do poder e influência dos hábitos, e frequentemente perdoamos os pecadores por serem vítimas dos maus hábitos.

Gostaria de dizer-vos que os bons hábitos são tão eficazes quanto os maus para controlar as ações de homens e mulheres.

Ah, se os homens e mulheres pudessem aprender na juventude a servir ao Senhor e a estabelecer bons hábitos, pensamentos virtuosos, ações justas, honestidade e integridade! Se o fizessem, quando atingissem o ápice de sua força e poder, em lugar de usar a maior parte de força e poder para corrigir os erros da juventude, em lugar de lutar para vencer aquilo que nunca deveria ter entrado em sua vida, usariam essa força para ir em frente e “construir mansões mais majestosas, ó minha alma”! Os homens e mulheres não cometem grandes erros num único instante. Isso acontece gradualmente, passo a passo. É uma bênção que não seja com rapidez que os homens conseguem afastar-se da trilha da virtude para se tornarem imorais.

(Nascido em Logan, Utah, em 1873, o Élder Ballard foi ordenado apóstolo a 7 de janeiro de 1919. Faleceu em 1939).