05/12/2016

Por Ele Ter Vindo

Thomas S. Monson

Presidente da Igreja
2011, Devocional de Natal

Antes de falar o discurso que preparei, eu gostaria de usar duas palavras. Alguém disse que elas são as palavras mais importantes que se pode dizer em inglês. Gostaria de dizer muito obrigado a todos os que se esforçaram para participar deste evento. Gostaria de dizer muito obrigado a todos os que estão ouvindo. Gostaria de dizer muito obrigado a todos os funcionários da Igreja e os que trabalham nos escritórios das Autoridades Gerais, que são tão úteis para nós e que nos devotam tanta atenção e seus talentos.

Acredito firmemente que o Espírito do Senhor está aqui hoje à noite. E gostaria de testificar-lhes que em todo o mundo eu tive a responsabilidade de escolher conselheiros. Orei fervorosamente. Havia muitos que poderiam servir; todos tinham a capacidade. Eu sabia que alguns mais do que outros, mas aguardei até que o Senhor me dissesse pelo Espírito quem deveria servir a meu lado. E agradeço a eles — e todos os que trabalham com eles — e a todos vocês que estão participando hoje à noite.

Estamos reunidos mais uma vez nesta noite como irmãos e irmãs no nosso tradicional Devocional de Natal. Ficamos realmente emocionados ao ouvir a música celestial e as mensagens inspiradoras. Que bela descrição do nascimento do Salvador assistimos em vídeo!

Testemunhamos juntos, nos últimos dias e semanas, o que ao longo dos anos vem sendo chamado de comercialização anual do Natal. Fico triste ao ver o Natal tornar-se cada vez menos voltado para Cristo e cada vez mais relacionado à propaganda, vendas, festas e presentes.

No entanto, o Natal é aquilo que queremos que seja. Apesar de todas as distrações, podemos fazer com que Cristo esteja no centro da nossa celebração. Se ainda não o fizemos, podemos criar tradições de Natal para nós e nossa família que nos ajudarão a perceber e a manter o espírito do Natal. 

Tanto quanto consigo me lembrar, tenho mantido uma tradição particular no Natal. Minha família sabe que, antes do Natal, vou ler de novo meu tesouro composto de livros de Natal e ponderar nas magníficas palavras de seus autores. Primeiro, será o Evangelho de Lucas — a própria história do Natal. Em seguida, lerei Um Conto de Natal, de Charles Dickens e, por último, lerei de novo A Mansão, de Henry Van Dyke. 



Fonte: A Liahona, Dezembro, 2014


Sempre tenho que enxugar os olhos ao ler esses escritos inspirados. Eles tocam-me profundamente a alma e trazem a mim o Espírito do nosso Salvador.

Em Um Conto de Natal, lemos a história sempre atual de Ebenezer Scrooge e das visitas que recebe de Jacob Marley, seu falecido sócio, e dos espíritos que representam o Natal passado, o Natal presente e os Natais ainda por vir. Scrooge é uma pessoa tão antipática que seu nome se tornou universalmente sinônimo de uma pessoa mesquinha e avarenta.

Na noite que antecede o Natal, são mostradas a Scrooge as coisas que já teve na vida, as que tem hoje e as que terá no futuro, se continuar no caminho que escolheu até esse ponto. Ele consegue reconhecer os próprios erros e aprende que podemos ser felizes, se nos esquecermos de nós mesmos e dos bens mundanos, e passarmos a nos concentrar em ajudar os outros e a abraçar a família e os amigos. Então, convertido a uma vida de serviço altruísta, Scrooge por fim declara: “Celebrarei o Natal em meu coração e procurarei vivê-lo o ano inteiro. Eu o viverei no Passado, no Presente e no Futuro. Os espíritos dos três habitarão meu coração. Não recusarei as lições que eles ensinam”.1 Esse relato tocante nunca deixa de inspirar-me.

Minha última leitura — A Mansão, de Henry Van Dyke — é da mesma natureza da história de Ebenezer Scrooge, mas se passa com um tal de John Weightman, ricaço, político poderoso e cidadão bem-sucedido.

Certa noite, John senta-se em sua biblioteca, em uma confortável poltrona, e contempla suas riquezas. Diante dele, encontram-se descrições e fotos da ala Weightman do hospital, da Cátedra Weightman de Jurisprudência Política, além de um relato da inauguração da Escola Primária Weightman. João Weightman sentia-se realizado. Havia conquistado uma ampla fortuna e, quando a compartilhava, queria reconhecimento. Sua filosofia sobre a filantropia poderia resumir-se em suas próprias palavras: “Nada de centavos jogados em chapéus de mendigos! … Faça suas doações de modo a serem reconhecidas”.

Depois, pegou a Bíblia da família, que estava sobre a mesa, abriu em uma passagem e leu, para si mesmo:

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;

Mas ajuntai tesouros no céu” (Mateus 6:19–20).

Pareceu-lhe que o livro escapou-lhe das mãos. Inclinou-se para frente, sobre a mesa, a cabeça repousando sobre as mãos cruzadas. Mergulhou em um sono profundo.

Em seu sonho, John Weightman foi transportado até à cidade celestial. Um guia recebeu a ele e a outros que ele conhecera em vida e anunciou-lhes que os conduziria a suas moradas celestiais.

O devotado marido de uma esposa inválida recebeu sua bela mansão, assim como uma mãe, viúva na juventude, que criara uma família extraordinária. Uma jovem paralítica que vivera em uma cama por 30 anos — incapacitada, mas não desesperada — recebeu uma bela mansão. Ela havia alcançado, por meio de milagrosa coragem, seu objetivo único: nunca reclamar, mas sempre compartilhar um pouco de sua alegria e paz com todos os que dela se aproximassem.

O grupo se deteve diante de uma bela mansão e ouviu o guia dizer: “Esta é a sua casa, Dr. McLean.Pode entrar; aí não há mais doenças, morte, tristezas ou dor, pois todos os seus inimigos foram vencidos. Mas todo o bem que você fez aos outros, toda a ajuda que lhes deu, todo o consolo que proporcionou, todo o encorajamento e o amor que concedeu aos que sofriam estão aí; pois tudo isso foi usado como material para construir esta casa para você”.

Um após outro membro do grupo foi recebendo sua mansão, onde entravam com alegria; e de dentro das casas vinham doces vozes de boas-vindas.

A essa altura, John Weightman mal podia esperar para ver a mansão que lhe estava reservada. Quanto mais ele e o guia prosseguiam, menores tornavam-se as casas. Por fim, chegaram a um campo aberto, árido e solitário. No meio do campo, havia uma pequena cabana. O guia lhe disse: “Esta é sua mansão, John Weightman”.

Abalado, John Weightman disse ao guia que só podia ser um engano, que o confundiram com outro John Weightman. Com a voz carregada de ressentimento, gritou: “Por acaso esta é a mansão adequada para alguém tão bem conhecido e devotado? Por que ela é tão desprezivelmente pequena e ordinária? Por que não construíram algo amplo e belo, como as outras?”

O guia replicou: “Construímos com o material que você nos enviou”.

John Weightman sentia-se humilhado. “Você não sabe que construí uma escola, uma ala hospitalar… três igrejas?”

“Espere”, disse o guia. Essas não foram coisas más. Mas todas estavam assinaladas para formarem o alicerce do nome e da mansão de John Weightman na Terra. … Na verdade, você já foi recompensado por esses feitos. Não espera ser pago em dobro, não é?”

John Weightman, agora triste, porém mais maduro, perguntou com sinceridade: “O que é que se leva em conta aqui?”

A resposta foi: “Somente aquilo que foi doado de verdade. Só o bem que foi feito pelo amor de fazê-lo. Só os planos em que o bem-estar dos outros era o que importava. Somente as obras em que o sacrifício era maior que a recompensa. Só os presentes em que o doador esquecia-se de si mesmo”.

A voz do guia foi ficando distante, enquanto John Weightman despertava com o soar do relógio marcando a hora. Imagens pálidas e recortadas da cidade que despertava penetravam lentamente a sala pelas aberturas entre as pesadas cortinas. Ele havia dormido ali a noite inteira. Transformado pela mensagem do sonho, ele tinha ainda vida pela frente, amor para compartilhar e presentes a oferecer.2

Essas leituras nunca deixam de trazer-me o espírito do Natal. O espírito do Natal é o espírito de amor, de generosidade e de bondade. Ele ilumina a alma, e contemplamos a azáfama da vida diária com novos olhos, e nos tornamos mais voltados para as pessoas do que para as coisas.

O espírito do Natal é algo que espero que todos nós tenhamos no coração e na vida, não só nesta época em particular, mas também ao longo dos anos.

Um sábio cristão certa vez alertou: “Não deixemos o Natal dissipar-se… mas que o guardemos no coração por toda a vida”.3

Esta é minha súplica esta noite, porque quando preservamos o espírito do Natal, preservamos o Espírito de Cristo, pois o espírito do Natal é o Espírito de Cristo.4 Ele afasta de nós todas as distrações que podem diminuir a importância do Natal e apagar seu verdadeiro significado.

Não há ocasião melhor que esta, a época do Natal, para todos nos rededicarmos aos princípios ensinados por Jesus Cristo.

Por Ele ter vindo ao mundo, temos um exemplo perfeito a seguir. Se nos esforçarmos para nos tornar como Ele, teremos alegria e felicidade na vida e paz em cada dia do ano. É o exemplo Dele que, se seguido, fará brotar em nós mais bondade e amor, mais respeito e atenção pelos outros.

Por Ele ter vindo, nossa existência mortal faz sentido.

Por Ele ter vindo, sabemos como procurar os que sofrem, onde quer que estejam.

Por Ele ter vindo, a morte perdeu seu aguilhão e a sepultura, sua vitória. Viveremos novamente, porque Ele veio.

Por Ele ter vindo e ter pagado por nossos pecados, temos a oportunidade de obter a vida eterna.

Por Ele ter vindo, estamos aqui esta noite para adorá-Lo, em laços de irmandade e amor.

Que Seu precioso Espírito esteja conosco e que possa sempre ser o centro de nossa celebração e de nossa própria vida, é minha oração, em Seu santo nome. Amém.
 
Referências:

1. Charles Dickens, Um Conto de Natal, 1899, p. 109.


2. Ver Henry Van Dyke, A Mansão, 1911.


3. Declaração de Peter Marshall, 80ª Congressional Record. 11673, 1947.


4. Ver David O. McKay, Gospel Ideals , 1953, p. 551.