Élder David A. Bednar
Do Quórum dos Doze Apóstolos
O espírito de revelação é real — e pode de fato funcionar em nossa vida individual e na Igreja.
Expresso minha gratidão pela inspiração que orientou a escolha do hino que será cantado após minhas palavras, “Neste Mundo” (Hinos, nº 136). Entendi a sutil sugestão.
Convido-os a pensarem em duas experiências que a maioria de nós já teve com relação à luz.
A primeira experiência ocorreu depois de entrarmos em um quarto escuro e termos acionado o interruptor. Lembrem-se de como uma iluminação intensa e brilhante encheu o quarto e fez com que a escuridão desaparecesse. O que antes era invisível e incerto tornou-se claro e reconhecível. Essa experiência caracterizou-se pelo imediato e intenso reconhecimento da luz.
A segunda experiência ocorreu ao observarmos a noite tornar-se dia. Lembram-se do aumento lento e quase imperceptível da luz no horizonte? Em contraste com o acender a luz no quarto escuro, a luz do amanhecer não apareceu imediatamente. Em vez disso, a intensidade da luz aumentou gradual e continuamente, e a escuridão da noite foi substituída pela radiante manhã. Por fim, o sol apareceu acima do horizonte. Porém, a evidência visual da chegada iminente do sol estava presente horas antes de ele realmente aparecer no horizonte. Essa experiência caracterizou-se pelo discernimento sutil e gradual da luz.
Com essas duas experiências comuns com a luz, podemos aprender muito sobre o espírito de revelação. Oro para que o Espírito Santo nos inspire e instrua ao nos concentrarmos no espírito de revelação e nos padrões básicos pelos quais a revelação é recebida.
O Espírito de Revelação
Revelação é a comunicação de Deus a Seus filhos na Terra e é uma das grandes bênçãos associadas ao dom e à companhia constante do Espírito Santo. O Profeta Joseph Smith ensinou: “O Espírito Santo é um revelador” e “ninguém pode receber o Espírito Santo sem receber revelações” (Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith, 2007, p. 139).
Ye Shall My Words by Judith Mehr |
Joseph Smith e Oliver Cowdery obtiveram valiosa experiência com o espírito de revelação ao traduzirem o Livro de Mórmon. Esses irmãos aprenderam que podiam receber todo o conhecimento necessário para concluir sua obra se pedissem com fé, com um coração honesto e crendo que receberiam. Com o passar do tempo, eles, cada vez mais, compreendiam que o espírito de revelação ocorre geralmente por meio de pensamentos e sentimentos que vêm à mente e ao coração pelo poder do Espírito Santo (ver D&C 8:1–2; 100:5–8). Assim o Senhor os instruiu: “Ora, eis que este é o espírito de revelação; eis que este é o espírito pelo qual Moisés conduziu os filhos de Israel através do Mar Vermelho, em terra seca. Portanto este é teu dom; usa-o” (D&C 8:3–4).
Enfatizo a frase “usa-o” em relação ao espírito de revelação. Nas escrituras, a influência do Espírito Santo é frequentemente descrita como uma “voz mansa e delicada” (I Reis 19:12; 1 Néfi 17:45; ver também 3 Néfi 11:3) e uma “voz (…) de perfeita suavidade” (Helamã 5:30). Devido ao Espírito sussurrar a nós, suave e delicadamente, é fácil compreender porque devemos evitar mídia imprópria, pornografia e substâncias e comportamentos destrutivos ou viciantes. Essas armas do adversário podem impedir e, por fim, destruir nossa capacidade de reconhecer e responder às mensagens sutis de Deus dadas pelo poder de Seu Espírito. Cada um de nós deve considerar seriamente e ponderar, em oração, sobre como podemos rejeitar a sedução do diabo e, dignamente “usá-lo”, sim, o espírito de revelação, em nossa vida pessoal e familiar.
Padrões de Revelação
As revelações são concedidas de várias maneiras, inclusive, por exemplo, por meio de sonhos, visões, conversas com mensageiros celestiais e inspiração. Algumas revelações são recebidas imediata e intensamente; outras são reconhecidas gradual e sutilmente. As duas experiências com a luz que descrevi nos ajudam a compreender melhor esses dois padrões básicos de revelação.
Uma luz acendida em um quarto escuro é como receber uma mensagem de Deus rápida, completa e integralmente. Muitos de nós já vivenciamos esse padrão de revelação ao recebermos respostas a orações sinceras ou proteção e orientação necessárias, de acordo com a vontade de Deus e a Seu tempo. Descrições de tais manifestações imediatas e intensas encontram-se nas escrituras, na história da Igreja e são evidenciadas na vida de muitos. De fato, tais milagres poderosos ocorrem. No entanto, esse padrão de revelação tende a ser mais raro e incomum.
O aumento gradual de luz que irradia do sol nascente é como receber uma mensagem de Deus “linha sobre linha, preceito sobre preceito” (2 Néfi 28:30). Mais frequentemente, a revelação vem em pequenos incrementos ao longo do tempo e é dada de acordo com o desejo, a dignidade e a preparação. Essas comunicações do Pai Celestial gradual e mansamente “[destilam-se] sobre [nossa] alma como o orvalho do céu” (D&C 121:45). Esse padrão de revelação tende a ser mais comum do que raro e está evidente nas experiências de Néfi, enquanto ele experimentava diversas abordagens para obter as placas de latão de Labão (ver 1 Néfi 3–4). Por fim, ele foi levado pelo Espírito a Jerusalém “não sabendo de antemão o que deveria fazer” (1 Néfi 4:6). Tampouco ele aprendeu a construir um navio de projeto inusitado, de uma só vez; ao contrário, o Senhor mostrou a Néfi “de tempos em tempos, de que maneira [ele] deveria trabalhar as madeiras do navio” (1 Néfi 18:1).
Tanto a história da Igreja quanto nossa vida pessoal estão repletas de exemplos do padrão estabelecido pelo Senhor para recebermos revelação “linha sobre linha, preceito sobre preceito”. Por exemplo, as verdades fundamentais do evangelho restaurado não foram dadas ao Profeta Joseph Smith todas de uma vez no Bosque Sagrado. Esses tesouros inestimáveis foram revelados à medida que as circunstâncias e a ocasião eram propícias.
O Presidente Joseph F. Smith explicou como esse padrão de revelação ocorreu em sua vida: “Quando garoto (…), eu, com frequência, (…) pedia ao Senhor que me mostrasse maravilhas, para que eu pudesse receber um testemunho. Mas o Senhor reteve as maravilhas e mostrou-me a verdade linha sobre linha (…) até me fazer saber a verdade, do alto da minha cabeça até a sola dos meus pés, e até que a dúvida e o medo fossem completamente purgados de mim. Ele não teve de mandar um anjo dos céus para fazer isso, nem teve de falar com a trombeta de um arcanjo. Com os sussurros daquela voz mansa do Espírito do Deus vivo, deu-me o testemunho que possuo. E por esse princípio de poder, Ele dará aos filhos dos homens um conhecimento da verdade que ficará com eles, e os fará conhecer a verdade como Deus a conhece, e a fazer a vontade do Pai, como Cristo faz. E nenhuma profusão de manifestações maravilhosas poderia realizar isso” (Conference Report, abril de 1900, pp. 40–41).
Como membros da Igreja, tendemos a enfatizar tanto as maravilhosas e dramáticas manifestações espirituais, que podemos deixar de apreciar e até podemos subestimar o padrão costumeiro pelo qual o Espírito Santo realiza Sua obra. A própria “simplicidade do método” (1 Néfi 17:41) de receber aos poucos impressões espirituais pequenas, que a longo prazo e na totalidade constituem a resposta desejada ou a orientação necessária, pode levar-nos a “[olhar] para além do marco” (Jacó 4:14).
Tenho conversado com muitas pessoas que questionam a força de seu testemunho pessoal e subestimam sua capacidade espiritual, porque não recebem impressões frequentes, miraculosas e fortes. Talvez, ao considerarmos as experiências de Joseph no Bosque Sagrado, ou a de Saulo na estrada de Damasco, e a de Alma, o filho, venhamos a crer que algo está errado ou falta em nós, por não termos em nossa vida tais exemplos tão conhecidos e espiritualmente admiráveis. Se vocês já tiveram pensamentos e dúvidas semelhantes, saibam que são muito normais. Apenas sigam em frente obedientemente, com fé no Salvador. Fazendo isso, “não vos podeis enganar” (D&C 80:3).
O Presidente Joseph F. Smith aconselhou: “Mostrem-me santos dos últimos dias que precisam nutrir-se de milagres, sinais e visões para manterem-se firmes na Igreja, e eu lhes mostrarei membros (…) que não estão em boa situação diante de Deus e que andam por caminhos escorregadios. Não é por meio de manifestações maravilhosas que seremos estabelecidos na verdade, mas, sim, pela humildade e pela fiel obediência aos mandamentos e às leis de Deus” (Conference Report, abril de 1900, p. 40).
Outra experiência comum com a luz nos ajuda a aprender outra verdade sobre o padrão de revelação de “linha sobre linha, preceito sobre preceito”. Às vezes, o sol nasce em uma manhã nublada e nevoenta. Devido às condições do tempo, é mais difícil perceber a luz e identificar o momento preciso em que o sol surge acima do horizonte. Mas, apesar de tudo, mesmo em uma manhã como essa podemos ter luz suficiente para reconhecer um novo dia e cuidar da vida.
Similarmente, muitas vezes recebemos revelação sem reconhecer precisamente como ou quando estamos recebendo revelação. Um importante episódio da história da Igreja ilustra esse princípio.
Na primavera de 1829, Oliver Cowdery era professor em uma escola de Palmyra, Nova York. Ao saber sobre Joseph Smith e o trabalho de tradução do Livro de Mórmon, Oliver sentiu-se inspirado a oferecer ajuda ao jovem profeta. Consequentemente, viajou para Harmony, Pensilvânia, e tornou-se o escriba de Joseph. Sua chegada e ajuda oportunas foram vitais para o aparecimento do Livro de Mórmon.
Logo depois o Salvador revelou a Oliver que, sempre que ele orava pedindo orientação, recebia instrução do Espírito do Senhor. “Se assim não fora”, declarou o Senhor, “não terias chegado ao lugar onde agora estás. Eis que tu sabes que me inquiriste e que te iluminei a mente; e agora te digo estas coisas para que saibas que foste iluminado pelo Espírito da verdade” (D&C 6:14–15).
Assim, Oliver recebeu uma revelação por meio do Profeta Joseph Smith informando-o de que ele estivera recebendo revelação. Evidentemente, Oliver não tinha reconhecido como e quando recebera orientação de Deus e precisava dessa instrução para aumentar seu entendimento sobre o espírito de revelação. Na verdade, Oliver estivera andando na luz enquanto o sol se levantava em uma manhã nublada.
Em muitas incertezas e desafios que enfrentamos na vida, Deus requer que façamos o melhor que pudermos, agindo por nós mesmos e não recebendo a ação (ver 2 Néfi 2:26), e que confiemos Nele. Talvez não vejamos anjos, nem ouçamos vozes celestes, nem recebamos impressões espirituais marcantes. Em geral podemos ir em frente, esperando e orando — mas com certeza absoluta — de que estamos agindo de acordo com a vontade de Deus. Mas ao honrarmos nossos convênios e guardarmos os mandamentos, ao procurarmos consistentemente fazer o bem e melhorar, podemos caminhar com a certeza de que Deus guiará nossos passos. E podemos falar com segurança que Deus inspirará o que dissermos. Isso, em parte, é o significado da escritura que declara: “Então tua confiança se fortalecerá na presença de Deus” (D&C 121:45).
Ao procurarem devidamente o espírito de revelação e o aplicarem, prometo-lhes que “[andarão] na luz do Senhor” (Isaías 2:5; 2 Néfi 12:5). Às vezes o espírito de revelação operará imediata e intensamente; outras vezes o fará sutil e gradualmente e com frequência, com tal delicadeza que talvez não o notem nem reconheçam conscientemente. Mas seja qual for o padrão pelo qual essa bênção seja recebida, a luz que ela traz iluminará e ampliará a sua alma, iluminará seu entendimento (ver Alma 5:7; 32:28) e dirigirá e protegerá você e sua família.
Declaro meu testemunho apostólico de que o Pai e o Filho vivem. O espírito de revelação é real — e pode de fato funcionar em nossa vida individual e na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Testifico dessas verdades no sagrado nome do Senhor Jesus Cristo. Amém