20/07/2022

Oração

Mensagem da Primeira Presidência

Revista A Liahona - Edição de maio de 1980
Presidente Spencer W. Kimball

As escrituras dizem: “Instrui ao menino o caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22:6.) E mais: “Para onde se inclinar o rebento, se inclinará a árvore.” É óbvio que, se a juventude estabelecer hábitos corretos de pensamento e ação, evitar-se-ão armadilhas e se desenvolverá uma geração grande e poderosa.

Por que devemos orar? Por sermos filhos e filhas de nosso Pai Celestial, de quem dependemos para tudo o que gozamos — nossos alimentos e roupas, nossa saúde e a própria vida, nossa visão e audição, nossa voz e a capacidade de nos locomovermos, e até mesmo nosso cérebro.

No entanto, vejo que muitos deixam de orar. Nosso Pai Celestial, que é todo sapiente ordena que o façamos: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança em rosto, e ser-lhe-á dada.” (Tiago 1:5.)

Certo jovem, no início de sua juventude, tinha falta de sabedoria, mas não de fé ou sinceridade. Sua oração abriu um céu fechado e um mundo confuso a uma inquirição. Naquele dia, um bosque comum tornou-se santificado; resplandeceu em glória. As árvores fizeram-se sagradas e o solo transformou-se em terra santa.

O Senhor nos deu este solene m andamento: “Quem não observar, no devido tempo, as suas orações perante o Senhor, que seja lembrado diante do juiz de meu povo”, (D&C 68:33.) “E eles também ensinarão suas crianças a orar e a andar em retidão perante o Senhor.” (D&C 68:28.) “E outra vez, te ordeno que deverás orar, tanto oralmente como em teu coração; sim, tanto diante do mundo como em segredo; em público como em privado”. (D&C 19:28.)

Quando devemos orar? A resposta: orai sempre. Mas, para ser mais específico, a Igreja recomenda que haja oração familiar com todos ou tantos membros da família presentes quanto possível. Essas orações não precisam ser compridas, especialmente se as criancinhas estiverem de joelhos. Todos os membros da família, inclusive os pequeninos, devem ter oportunidade de fazer oração, em rodízio.

Devemos exprimir gratidão pelas bênçãos recebidas. A obra missionária que tudo abrange deve ser assunto de nossas orações. Quando uma criança ora durante toda sua vida pelos missionários, será um bom missionário. Oramos por compreensão, sabedoria, juízo. Oramos pelos entes queridos, pelos doentes e necessitados. Oramos pelos frustrados, perturbados e pecaminosos. Essas orações são em grande parte genéricas.

Nossas orações pessoais são mais específicas. Enquadram-se em, pelo menos, duas categorias. Existem as orações formais, em que nos ajoelhamos regularmente. Nestas falamos com o Senhor mais intimamente. Oramos por algumas das mesmas coisas que em nossas orações familiares, mas principalmente por nossas necessidades imediatas e prementes. Expressamos nossos pensamentos mais íntimos. Confessamos nossas fraquezas. Rogamos ajuda para sobrepujarmos nossas transgressões e pensamentos maléficos, e perdão para eles. Desnudamos nossa alma.

Será que alguém pode ter um inimigo por muito tempo ou continuar a odiar alguém por quem ora? É aqui que ele se despoja de toda pretensão, fingimento, artifício. Posta-se diante de seu Criador como realmente é, sem afetação ou subterfúgios.

Existem as orações pessoais, que não têm tanta formalidade. Há sempre, em nosso coração, uma prece: para que possamos fazer o melhor possível, para que possamos apresentar-nos bem, para que nos lembremos das coisas que aprendemos. Oramos ao nos levantarmos para falar, ao andar, ao dirigir.

Lembramo-nos de nossos amigos e de nossos inimigos. Oramos solicitando sabedoria e julgamento. Oramos por proteção em locais perigosos e por força em momentos de tentação. Expressamos orações momentânea sem palavras e pensamentos, em voz alta ou no mais profundo silêncio. Será que alguém consegue agir mal, quando tem orações honestas em seu coração e em seus lábios?

A maioria de nós precisa tomar grandes decisões. O Senhor forneceu-nos um meio de obtermos essas respostas. Se a pergunta for qual a escola, que ocupação, onde viver, com quem se casar, ou outras interrogações de igual importância, vocês devem fazer todo o possível para responder. Com muita frequência, nós queremos como Oliver Cowdery, nossas respostas sem esforço. O Senhor lhe disse:

“Eis que não compreendeste: tu supuseste que eu to daria, quando não fizeste outra coisa senão pedir.

“Mas, eis que eu te digo, deves ponderar em tua mente; depois me deves perguntar se é correto e, se for, eu farei arder dentro de ti o teu peito; hás de saber, assim, que é certo.
“Mas, se não for correto, não sentirás isso, mas terás um estupor de pensamento.” (D&C 9:7-9.)

O Senhor realmente responde às nossas orações, mas, às vezes não somos suficientemente sensíveis para saber quando e de que modo são respondidas. Que remos a “escrita na parede”, ou que um anjo fale ou ouvir uma voz celestial. Com frequência, nossos pedidos são tão absurdos, que o Senhor até disse: “Não brinques com estas coisas; não peças o que não deves pedir.” (D&C 8:10.)

A fé deve ser acompanhada de obras. Como seria fútil pedir ao Senhor que nos dê conhecimento; mas ele nos ajudará a obtê-lo, a estudar de maneira construtiva, a pensar claramente e a reter coisas que tivermos aprendido. Como é tolo pedir ao Senhor que nos proteja, se dirigirmos desnecessariamente em velocidade excessiva, se comermos ou bebermos elementos destrutivos. Poderemos pedir-lhe que nos proporcione as coisas materiais, se não fizermos esforços? “A fé, sem as obras é morta.” (Tiago 2:20.)

Vocês, que oram às vezes, por que não orar mais regularmente, com mais frequência e devoção? Será que o tempo é tão precioso, a vida tão curta, tão insuficiente a fé?


Como é que vocês oram? Como publicanos ou indivíduos arrogantes? (Vide Lucas 18:11-13.)
Quando fazem suas orações secretas, apresentam-se com a alma nua, ou vestem-se em roupagens elegantes e pressionam a Deus, para que veja suas virtudes? Vocês acentuam sua bondade e encobrem seus pecados com um manto de pretensão? Ou imploram misericórdia das mãos de uma Bondosa Providência?

Vocês obtêm respostas para suas orações? Se não, talvez não estejam pagando o preço. Oferecem algumas palavras banais e frases batidas, ou falam intimamente com o Senhor? Oram às vezes, quando deveriam orar com regularidade, com frequência, constantemente?


Quando vocês oram, simplesmente falam, ou também escutam? O Salvador disse: “Eis que estou à porta, e bato: se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.” (Apocalipse 3:20.)

A promessa é feita a todos. Não existe discriminação, não há alguns privilegiados. Mas o Senhor não prometeu arrebentar a porta. Ele chega e bate. Se não ouvirmos, ele não ceara conosco, nem dará resposta a nossas orações. Vocês sabem como ouvir, compreender, interpretar, entender? O Senhor continua batendo. Nunca recua. Mas jamais se impingirá a nós. Se nos afastarmos, seremos nós que nos afastamos e não o Senhor. E se alguma vez deixarmos de obter resposta para nossas orações, precisamos avaliar nossa vida à procura de uma razão. Falhamos em fazer o que deveríamos ter feito ou fizemos alguma coisa que não deveríamos. Embotamos nossos ouvidos ou debilitamos nossa visão.

Certo jovem me perguntou: “Às vezes, sinto-me tão próximo de meu Pai Celestial e um a influência doce e espiritual; por que não posso consegui-la durante todo o tempo?” E eu lhe respondi: “A resposta está em você, não no Senhor, pois ele continua batendo, ansioso por entrar.”

Se você perdeu aquele espírito de paz e aceitação, deve esforçar-se para recapturá-lo e retê-lo. Você está ouvindo? Consegue ouvir, ver e sentir? Ou às vezes se assemelha aos irmãos de Néfi, a quem ele disse: “Haveis ouvido sua voz de quando em quando. . ., porém havíeis perdido a sensibilidade, de modo que não pudestes perceber suas palavras.” (1 Né.17:45.)

Enos by Lester Yocum

“O Senhor realmente responde às nossas orações, mas, às vezes não somos suficientemente sensíveis para saber quando e de que modo são respondidas. Queremos a “escrita na parede”, ou que um anjo fale, ou ouvir uma voz celestial.”

Quando nos afastamos do Senhor, parece que se desenvolve sobre nós uma camada de mundanismo. Pode ser como a camada de graxa espalhada sobre o corpo do nadador, quando vai cruzar o Canal da Mancha. Ela tapa os poros e cobre a pele, de modo que haja menor penetração do frio. Porém, quando perfuramos a concha e penetramos no invólucro e nos humilhamos com a alma nua e súplica sincera e vida purificada, nossas orações são respondidas. Podemos alcançar o ponto a que Pedro chegou, e ser, como ele, “participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. (Vide II Pedro 1:4, 9.)

Vocês agradecem ou simplesmente pedem graças? Ou serão como os leprosos encontrados ao longo do caminho? (Vide Lucas 17:12-13.)

Em nossas orações públicas, não devemos ser como os fariseus ou hipócritas que gostavam de orar nas sinagogas e nas esquinas para que pudessem ser vistos pelos homens. (Vide Mateus 6:5.)

Todos temos uma grande obrigação para com nosso Senhor. Nenhum de nós alcançou a perfeição. Nenhum de nós está livre de erro. Ê necessário que oremos, nós, todos os homens, da mesma forma como precisamos da castidade, da observância do dia santificado, do dízimo, viver a Palavra de Sabedoria, frequentar as reuniões e nos casarmos para a eternidade. Da mesma forma como qualquer outro, este é um mandamento do Senhor.
Aqueles que desejam amortizar com centavos seu débito insondável, lembrem-se de Enos, que, como muitos de nós, tinha grande necessidade. Como muitos filhos de boa família, ele se afastou. Qual a gravidade de seus pecados, eu não sei, mas devem ter sido hediondos, pois diz: “E relatar-vos-ei a luta que tive perante Deus, antes de receber o perdão de meus pecados.” O relato é vívido, suas palavras impressionantes.

“Eis que saí para caçar animais nas florestas.”
Mas não consegui abater nem capturar animal algum. Estava trilhando um caminho que nunca passara antes. Procurava, batia, pedia, rogava; estava nascendo de novo. Vislumbrava os vales verdejantes além dos ermos estéreis. Estava perscrutando sua alma. Vivera a existência toda num pedaço de terra cheio de mato, mas agora buscava um aprazível jardim. Continua ele: “E as palavras que frequentemente havia ouvido de meu pai sobre a vida eterna e a alegria dos santos, penetraram profundam ente em meu coração.”


A lembrança era tanto bondosa quanto cruel. Os quadros pintados por seu pai agora agitavam sua alma. Então, a memória abriu as portas de seu passado horrendo. Sua alma revoltou-se com o realce das coisas desprezíveis, mas agora ansiava pelo melhor.

Processava-se um renascimento. Era doloroso, mas compensador.

“E minha alma ficou faminta.”

O espírito de arrependimento estava tomando conta. Tinha remorso de suas transgressões, sentia-se ansioso de enterrar o velho homem pecador, para ressurgir como novo homem de fé, de santidade.

“Ajoelhando-me ante o Criador, dirigi-lhe uma fervorosa oração, suplicando-lhe por minha própria alma.”

Agora chegara à compreensão de que ninguém pode ser salvo em seus pecados, que nenhuma coisa impura pode entrar no reino de Deus, que deve haver uma purificação, que as manchas precisam ser eliminadas, crescer pele nova sobre as cicatrizes. Veio-lhe a compreensão de que deve haver um expurgo de seus pecados, um novo coração em um novo homem. Sabia que mudar de coração, de pensamentos, de tecidos, não era coisa fácil. Diz ele:

“Orei o dia inteiro.”

Aqui não se está referindo a uma oração casual; nada há de frívolo, de frases batidas; aqui não está um apelo momentâneo. Durante o dia inteiro, com os segundos transformando-se em minutos, e os minutos em horas, e as horas em um “dia inteiro”. Mas, quando o sol se pôs, o alívio ainda não viera, pois o arrependimento não é um ato simples, nem o perdão um dom recebido sem esforço. A comunicação com seu Redentor e a sua aprovação eram-lhe tão preciosas, que sua alma, cheia de determinação, prosseguiu sem cessar.

“E, até depois de ter anoitecido, continuei a elevar minha voz, para que ela chegasse ao céu.” (Enos 1:2-4.)

Poderia o Redentor resistir a uma súplica tão determinada? Quantos de vocês já persistiram assim? Quantos de vocês, com sérias transgressões ou não, já oraram durante tantas horas? Quantos de vocês já oraram durante cinco horas? Durante uma? Por 30 minutos? Por dez? Se têm erros em sua vida, já contenderam diante do Senhor? Já encontraram sua profunda floresta, cheia de solidão? Quão faminta ficou sua alma? Qual foi a profundidade da impressão de suas necessidades em seu coração? Quando foi que se ajoelharam em total silêncio diante de seu Criador? Pelo que oraram — pela própria alma? Durante quanto tempo imploraram assim reconhecimento — o dia inteiro? E quando as sombras caíram, continuaram a elevar a voz em poderosa oração? Ou terminaram-na com alguma palavra ou frase batida?

À medida que lutarem em espírito e clamarem poderosamente e comprometerem-se com sinceridade, a voz do Senhor Deus virá à sua mente como veio à de Enos:

“Teus pecados te são perdoados e tu serás abençoado,” (Enos 1:5.)

Por não compreender, vocês acham que a oração não é respondida? Algumas pessoas ouvem um barulho; outras pensam que são trovões; enquanto outros ouvem e compreendem a voz de Deus e o veem pessoalmente.

Quando oramos com Deus a sós, despimo-nos de todo fingimento e pretensão, toda hipocrisia e arrogância.

Todos nós precisamos de orações que nos aproximem de Deus, que nos permitam renascer.
E em todas as nossas orações, lembremo-nos de nossa insuficiência, nossas limitações, nossa dependência, nossa falta de sabedoria. Como a criança, nem sempre sabemos o que é melhor para nós, o que nos é apropriado. Assim, dizemos em todas as nossas orações: “Seja feita a tua vontade”, e de coração devemos dizê-lo. Não devemos pedir conselho a um líder da Igreja, e depois não o seguir. Nunca devemos pedir bênçãos ao Senhor e depois ignorar a resposta.

E assim, oramos: “Seja feita a tua vontade, oh Senhor. Tu sabes melhor, bondoso Pai. Eu me conformarei. Eu o aceitarei agradecidamente.”

Tradutor