22/09/2023

Aconteça o Que Acontecer, Desfrute

Joseph B. Wirthlin

Do Quórum dos Doze Apóstolos

1º de outubro de 2008, Conferência Geral da Igreja

 

A maneira como reagimos à adversidade pode ser um fator preponderante para o sucesso e a felicidade na vida.

Quando eu era jovem, adorava praticar esportes e tenho boas lembranças daqueles dias. Porém, nem todas são agradáveis. Lembro-me de um dia em que meu time de futebol perdeu um jogo difícil. Fui para casa, desanimado. Minha mãe estava lá. E ela escutou meus lamentos. Ela ensinou aos filhos a confiarem em si mesmos e uns nos outros, a não culpar os outros por seus infortúnios e a dar o melhor de si em tudo o que fizessem.

Quando caíamos, ela esperava que nos levantássemos e fôssemos em frente. Assim, o conselho de minha mãe na ocasião não foi exatamente uma surpresa. Jamais me esqueci dele em toda minha vida.

“Joseph”, disse ela, “aconteça o que acontecer, desfrute”.

Sempre reflito sobre esse conselho.

Acho que ela talvez quisesse dizer que a vida tem altos e baixos, e há épocas em que parece que os pássaros não cantam nem os sinos tocam. No entanto, apesar do desânimo e da adversidade, os que são mais felizes são aqueles que parecem aprender com as dificuldades, tornando-se mais fortes e mais sábios por causa delas.

Talvez alguns pensem que as Autoridades Gerais raramente sentem dores, têm aflições ou passam por dificuldades. Quem dera isso fosse verdade! Embora cada homem e mulher que está neste púlpito hoje tenha experimentado alegria em abundância, cada um também já sorveu da taça do desânimo, da tristeza e da perda. O Senhor em Sua sabedoria não protege ninguém das mágoas e da tristeza.

Para mim, o Senhor abriu as janelas do céu e derramou sobre minha família bênçãos que não consigo nem expressar. Entretanto, como todo mundo, houve ocasiões em minha vida em que parecia que o peso em meu coração era maior do que podia suportar. Nessas ocasiões, volto meu pensamento para aqueles agradáveis dias da juventude em que as grandes tristezas se resumiam em perder um jogo de futebol.

Quão pouco eu sabia naquela época do que me aguardava mais tarde! Mas sempre que meus passos me conduziam a épocas de tristezas e mágoas, as palavras de minha mãe me vinham à mente: “Aconteça o que acontecer, desfrute”.

Como podemos gostar dos dias repletos de tristeza? Não podemos — pelo menos não naquele momento. Não acho que minha mãe estivesse querendo dizer que devíamos suprimir o desânimo ou negar a realidade da dor. Nem acho que estivesse sugerindo que ocultássemos as verdades desagradáveis sob uma capa de falsa felicidade. Creio, no entanto, que a maneira como reagimos à adversidade pode ser um fator preponderante para o sucesso e a felicidade na vida.

Se enfrentarmos as adversidades com sabedoria, nossas dificuldades podem ser épocas de maior crescimento, o que pode levar-nos a ocasiões de maior felicidade.

Aprendi, ao longo dos anos, algumas coisas que me ajudam em épocas de testes e provações. Gostaria de compartilhá-las com vocês.

 

Elder Wirthlin e esposa Elisa recém casados.
Fonte: https://newsroom.churchofjesuschrist.org


Aprender a Rir

A primeira coisa a fazer é aprender a rir. Já viram um motorista nervoso reagir ao erro de outra pessoa, como se essa pessoa tivesse insultado a honra dele, a família, o cachorro e todos os antepassados dele até Adão? Ou já bateram a cabeça em uma porta de armário que alguém esqueceu aberta e que, por isso, foi amaldiçoada, condenada e vandalizada pela vítima com a cabeça dolorida?

Há um antídoto para ocasiões como essas — aprendam a rir.

Lembro-me de lotar uma perua com nossos filhos para irmos até Los Angeles. Havia pelo menos nove pessoas no carro, e sempre nos perdíamos no caminho. Em vez de ficar com raiva, ríamos. Toda vez que pegávamos a estrada errada, ríamos mais ainda.

Era muito comum nos perdermos no caminho. Uma vez, quando íamos para Cedar City, ao sul de Utah, pegamos um desvio errado e só percebemos isso duas horas mais tarde quando vimos as placas de “Bem- vindos a Nevada”. Não ficávamos com raiva. Ríamos e, por isso, raramente sentíamos raiva ou ressentimento. Nosso riso deixou lembranças muito queridas em nós.

Lembro-me de quando uma das nossas filhas foi a um encontro arranjado para ela com um rapaz a quem não conhecia. Ela estava toda arrumada esperando o rapaz chegar, quando a campainha tocou. Estava à porta um homem que parecia um tanto velho, mas ela tentou ser educada. Ela o apresentou a mim, à mãe e aos irmãos, vestiu o casaco e saiu. Vimos que ela entrou no carro, mas o carro não saiu do lugar. Finalmente, nossa filha saiu do carro e, ruborizada, entrou de volta em casa. O homem que ela pensava ser seu encontro arranjado, na realidade, viera pegar outra de nossas filhas que ia ser a babá dos seus filhos para ele sair com a esposa.

Todos rimos muito desse episódio. De fato, não conseguíamos parar de rir. Mais tarde, quando o rapaz do verdadeiro encontro chegou, eu nem consegui falar com ele, pois eu estava na cozinha, rindo. Hoje compreendo que nossa filha poderia ter-se sentido humilhada e envergonhada. Mas ela riu conosco e, por isso, ainda rimos disso hoje em dia.

Da próxima vez que se sentir tentado a remoer algo, procure experimentar o riso. Isso vai aumentar seu tempo de vida e vai fazer a vida de todos ao redor mais agradável.
 


Procurar o Plano Eterno

A segunda coisa que podemos fazer é procurar o plano eterno. Quando a adversidade chega a sua vida, pode parecer que tudo só acontece com você. Você balança a cabeça e pensa: “Por que eu?”

Porém, cada um de nós tem sua hora de tristeza. Em uma ocasião ou noutra, todo mundo tem de experimentar a tristeza. Ninguém está isento.

Adoro as escrituras, porque elas mostram exemplos de grandes e nobres homens e mulheres, tais como Abraão, Sara, Enoque, Moisés, Joseph, Emma e Brigham. Cada um deles vivenciou a adversidade e a tristeza que os provou, fortaleceu e refinou seu caráter.

Aprender a resistir na época de frustração, sofrimento e tristeza faz parte do nosso treinamento em serviço. Tais experiências, embora muito difíceis de suportar na ocasião, são exatamente aquelas que ampliam nossa compreensão, edificam nosso caráter e fazem aumentar nossa compaixão pelos outros.

Devido ao grande sacrifício de Jesus Cristo, Ele compreende nosso sofrimento. Ele compreende nossa aflição. Passamos por experiências difíceis, para que também nós tenhamos maior compaixão e compreensão pelos outros.

Lembrem-se das sublimes palavras do Salvador ao Profeta Joseph Smith quando ele sofria com seus companheiros, na abafada e escura Cadeia de Liberty. “Meu filho, paz seja com tua alma; tua adversidade e tuas aflições não durarão mais que um momento.

E então, se as suportares bem, Deus te exaltará no alto”. (D&C 121:7–8.)

Com essa perspectiva eterna, Joseph obteve consolo nessas palavras, e pode ser assim conosco. Às vezes, os momentos que parecem subjugar-nos pelo sofrimento, são exatamente os que nos ensinarão a subjugar o sofrimento.
 


O Princípio da Compensação

A terceira coisa que podemos fazer é entender o princípio da compensação. O Senhor recompensa os fiéis por toda perda que sofrem. Aquilo que é tirado dos que amam o Senhor será acrescido a eles à própria maneira do Pai. Embora a compensação possa não chegar quando desejamos, os fiéis saberão que cada lágrima vertida hoje será compensada por cem lágrimas de regozijo e gratidão.

Uma das bênçãos do evangelho é o conhecimento de que após concluirmos a vida mortal, a vida continuará do outro lado do véu. Novas oportunidades nos serão dadas. Nem mesmo a morte pode roubar-nos as bênçãos eternas prometidas por um amoroso Pai Celestial.

Devido à natureza misericordiosa do Pai Celestial, prevalece o princípio da compensação. Já vi isso na minha vida. Meu neto Joseph é autista. Tem sido doloroso para seus pais lidarem com as implicações dessa tribulação.

Eles sabiam que Joseph provavelmente nunca seria como outras crianças. Compreendiam o que isso significava não apenas para Joseph, mas também para a família. Mas que alegria é tê-lo conosco! As crianças autistas em geral têm dificuldades de expressar emoções, mas sempre que estou com ele, Joseph me dá um grande abraço. Embora tenha havido desafios, ele enche nossa vida de alegria.

Os pais o têm estimulado a praticar esportes. Quando começou a jogar beisebol, ele jogava na posição outfield. Mas acho que ele não entendeu a necessidade de correr para pegar as bolas lançadas. Ele elaborou uma forma muito mais eficiente de jogar. Quando uma bola vinha em sua direção, ele a deixava passar, tirava outra bola do bolso e a lançava na direção do rebatedor.

Qualquer ressalva que a família talvez sinta em relação a criar Joseph e quaisquer sacrifícios que façam, têm sido compensados inúmeras vezes. Por causa desse espírito especial, seu pai e sua mãe têm aprendido muito sobre crianças com deficiências. Eles têm testemunhado em primeira mão a generosidade e a compaixão da família, dos vizinhos e dos amigos. Eles se regozijam com o progresso de Joseph e ficam maravilhados com a bondade dele.
 


Confiar no Pai e no Filho

A quarta coisa que podemos fazer é colocar nossa confiança no Pai Celestial e em Seu Filho, Jesus Cristo.

“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito.” (João 3:16). O Senhor Jesus Cristo é nosso sócio, ajudante e advogado. Ele quer que sejamos felizes. Quer que sejamos bem-sucedidos. Se fizermos nossa parte, Ele fará a Dele.

Ele, que desceu abaixo de todas as coisas, virá em nosso socorro. Ele nos consolará e nos susterá. Nos fortalecerá em nossas fraquezas e nos fortalecerá em nossas aflições. Ele fará com que as coisas fracas se tornem fortes. (Éter 12:27).

Uma de nossas filhas, após dar à luz, ficou gravemente enferma. Oramos por ela, a abençoamos e apoiamos da melhor maneira possível. Esperávamos que ela recebesse a bênção da cura, mas os dias se tornaram meses, e os meses se tornaram anos. A certa altura eu disse a ela que aquela aflição poderia ser algo com que ela teria de lutar pelo resto da vida.

Certa manhã, lembro-me de ter colocado um cartão em minha máquina de escrever. Entre as palavras que datilografei para ela, estavam estas: “O segredo é simples: ponha a sua confiança no Senhor, faça o melhor, e depois deixe o restante com Ele”.

Ela realmente colocou sua confiança em Deus. Porém, a doença não desapareceu. Sofreu durante anos. Mas, no momento devido, o Senhor a abençoou e finalmente ela recuperou a saúde.

Conhecendo-a como a conheço, creio que mesmo se não tivesse sido curada, ainda assim ela teria confiado em seu Pai Celestial e “deixado o restante com Ele”.
 

 Conclusão

Embora minha mãe já tenha há muito ido para sua recompensa eterna, suas palavras sempre me acompanham. Ainda me lembro de seu conselho naquele dia, há muito tempo, quando meu time perdeu o jogo de futebol: “Aconteça o que acontecer, desfrute”.

Sei o motivo por que deve haver oposição em todas as coisas. A adversidade, se corretamente enfrentada, pode ser uma bênção em nossa vida. Podemos aprender a apreciá-la.

Se procurarmos o bom humor, se buscarmos a perspectiva eterna, se compreendermos o princípio da compensação e se nos aproximarmos do Pai Celestial, poderemos sobrepujar as dificuldades e provas. Poderemos dizer, como minha mãe: “Aconteça o que acontecer, desfrute”. Disso testifico, em nome de Jesus Cristo. Amém.
 


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